Lenda do boxe e empreendedor da cannabis, Tyson promove segurança no consumo e reforça crítica à política de drogas dos EUA após visita a laboratório da DEA em Nova York.
O ex-campeão mundial de boxe Mike Tyson, hoje empresário do setor canábico com sua marca Tyson 2.0, protagonizou uma cena inusitada nesta semana ao visitar um laboratório da Drug Enforcement Administration (DEA), a agência antidrogas dos Estados Unidos. Acompanhado de uma procuradora federal e vestindo uma jaqueta oficial da DEA, Tyson conheceu de perto o acervo de substâncias apreendidas — incluindo cannabis, psilocibina e fentanil — e aproveitou a ocasião para fazer críticas à atual classificação das drogas no país.
A visita acontece em meio à expectativa sobre o possível rebaixamento da cannabis na lista de substâncias controladas dos EUA — medida que foi sinalizada pelo governo Biden, mas ainda está em tramitação sem avanços concretos.
Durante a visita ao laboratório da DEA em Nova York, Tyson foi informado sobre os perigos do fentanil, opioide sintético altamente letal que tem gerado uma epidemia de overdoses nos Estados Unidos. Surpreso, o atleta declarou ao jornal New York Post:
“Acabei de descobrir que uma quantidade mínima de fentanil pode matar uma pessoa. Nunca fui educado sobre isso, estou aqui para aprender sobre as leis.”
Tyson também aproveitou a oportunidade para reforçar o compromisso de sua marca com a segurança no consumo de cannabis legal. “Quero tornar todo o universo da cannabis mais seguro com meus produtos”, disse. Ele relacionou sua experiência pessoal com substâncias como álcool e cocaína — das quais está afastado há anos — com a missão de oferecer produtos canábicos testados e confiáveis.
Tyson esteve acompanhado por Alina Habba, procuradora interina do Distrito de Nova Jersey e ex-integrante da equipe de Donald Trump. Ela apoiou o discurso do ex-boxeador, afirmando que:
“Há um problema tóxico real no mercado ilegal. Os Tysons são defensores do uso seguro, garantindo que [o produto] não venha da China ou com pesticidas.”
A fala reforça uma agenda de compliance e regulação que muitos setores do mercado canábico legal têm buscado implementar, principalmente em um cenário onde produtos ilegais seguem dominando parte significativa do consumo, sem qualquer controle de qualidade.
Cannabis na classe I, fentanil na classe II: algo está errado
Após a visita, Tyson publicou em sua conta oficial no X (antigo Twitter) uma crítica direta à política de classificação de substâncias nos EUA:
“Como a cannabis é considerada substância da Classe I, enquanto o fentanil, que mata milhões, está na Classe II? Algo está quebrado e precisa ser consertado.”
Essa incoerência na política antidrogas também vem sendo criticada por especialistas em saúde pública, ativistas e até políticos nos EUA e no Brasil. A cannabis segue, em território americano, na mesma categoria que heroína e LSD, considerada sem valor terapêutico reconhecido, apesar de já ser legal para uso medicinal em dezenas de estados — e até para uso adulto em outros tantos.
Um dia antes da visita à DEA, Tyson apareceu em uma foto ao lado do ex-presidente Donald Trump durante um evento do UFC. A postagem foi descrita pela equipe da Tyson 2.0 como “poderosa”, embora não se saiba se o tema drogas foi debatido entre os dois. Trump, apesar de ter feito acenos à reclassificação da cannabis e à legalização na Flórida durante sua campanha, continua em grande parte calado sobre a pauta.
Em outro post, a Tyson 2.0 reforçou sua posição:
“A mudança vem de dentro. Somos totalmente comprometidos com segurança e conformidade. Se você não está comprando de um dispensário legal, com testes laboratoriais, está colocando sua saúde em risco.”
Em entrevistas anteriores, Tyson também já havia falado sobre seu uso pessoal de cannabis e DMT (dimetiltriptamina), demonstrando apoio à pesquisa com psicodélicos. Ao podcast de Joe Rogan, chegou a dizer:
“Gosto de quem eu sou quando fumo. Sem maconha, às vezes não gosto de mim mesmo. Isso é real.”