Home » Uso crescente da cannabis pressiona indústria do álcool e impacta lucros, admite CEO da Jack Daniel’s

Uso crescente da cannabis pressiona indústria do álcool e impacta lucros, admite CEO da Jack Daniel’s

by Redação

Tendência geracional, novos medicamentos e a substituição do álcool pela maconha estão entre os fatores que desafiam o setor, segundo executivos do mercado de destilados

O uso cada vez mais comum da cannabis como alternativa ao álcool está gerando impactos reais na indústria de bebidas destiladas. A constatação veio do próprio CEO da Brown-Forman Corporation, Lawson Whiting — empresa por trás de marcas icônicas como Jack Daniel’s e Woodford Reserve.

Durante uma conferência com investidores nesta quinta-feira (6), Whiting foi questionado sobre a queda de 5% nas vendas líquidas da empresa. Segundo ele, três fatores explicam o recuo: mudanças geracionais de comportamento, a popularização de medicamentos para perda de peso e o avanço do uso da cannabis.

“Temos dito isso há um ano e meio. Pode haver divergência entre os analistas, mas seria ingenuidade negar que há pressão vinda do mercado da maconha”, afirmou Whiting.

Embora o executivo acredite que o principal problema ainda seja o orçamento mais apertado do consumidor médio, ele reconhece que a popularização da cannabis legal tem desafiado o consumo tradicional de bebidas alcoólicas, sobretudo entre os mais jovens.

A tendência não se limita aos Estados Unidos. Segundo Whiting, a Europa também segue um padrão semelhante de queda no consumo de álcool, apesar de ainda não ter legalizado a cannabis de forma tão ampla quanto os EUA — o que indica que a mudança cultural em relação ao uso de substâncias está em curso globalmente.

No mesmo dia, a Brown-Forman divulgou um comunicado em que lista entre seus principais riscos comerciais a “mudança nas preferências e padrões de consumo”, incluindo “a maior legalização da maconha”.

Apesar dos desafios, o CEO afirma que a empresa está preparada para inovar e enfrentar as dificuldades econômicas. Mas o mercado financeiro já vem alertando para esse novo cenário há algum tempo. Relatórios recentes da Bloomberg Intelligence e de um grande banco internacional preveem que a cannabis deve se tornar um concorrente direto e duradouro do álcool.

De acordo com essas projeções, cerca de 20 milhões de pessoas devem passar a consumir cannabis regularmente até 2027 nos Estados Unidos, enquanto o número de consumidores de bebidas alcoólicas tende a cair. A expectativa é que o mercado de maconha movimente mais de US$ 37 bilhões nos próximos dois anos, impulsionado por novas regulações estaduais.

A substituição do álcool pela maconha tem sido especialmente forte entre as gerações mais jovens, que buscam alternativas com menos efeitos colaterais e que se alinhem melhor a um estilo de vida mais consciente, funcional e com foco em bem-estar.

Nos Estados Unidos, onde o consumo de cannabis medicinal e recreativa é legal em diversos estados, cresce o número de consumidores que optam pela maconha para relaxar, socializar e até tratar condições como ansiedade e insônia, antes combatidas com bebidas alcoólicas.

O fenômeno também é observado no Brasil, mesmo que em ritmo mais lento devido às restrições legais. Mas com o avanço dos debates sobre regulação da cannabis medicinal, é provável que essa transição ganhe cada vez mais força.

You may also like