Dados indicam novas formas de consumo e reforçam necessidade de educação sobre diferentes vias de uso
Um novo relatório do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), a principal autoridade sanitária dos Estados Unidos, revelou que métodos alternativos de consumo de cannabis — como comestíveis, vaporização e dabbing — estão se tornando cada vez mais populares entre os adultos norte-americanos.
Embora o uso tradicional por combustão (fumar) ainda seja o mais comum, os dados coletados em 2022 mostram um aumento considerável no interesse por formas menos convencionais de consumir a planta. A análise foi feita a partir da pesquisa anual Behavioral Risk Factor Surveillance System (BRFSS), que entrevistou milhares de adultos maiores de 18 anos em 22 estados e dois territórios dos EUA.
Segundo o relatório, 15,3% dos entrevistados declararam uso atual de cannabis, e 7,9% relataram uso diário. Dentre esses, 79,4% afirmaram fumar, mas 41,6% consumiram por meio de alimentos, 30,3% utilizaram vaporizadores e 14,6% fizeram uso de dabs — uma forma concentrada de THC normalmente inalada com altas temperaturas.
A maioria (46,7%) afirmou utilizar múltiplas formas de consumo, sendo as combinações mais comuns entre fumar e comer ou fumar e vaporizar. O uso de vaporizadores e dabs foi mais frequente entre jovens de 18 a 24 anos e, especialmente, entre indígenas havaianos ou das ilhas do Pacífico.
O relatório do CDC também apontou que o consumo atual e diário de cannabis foi mais elevado entre homens, pessoas multirraciais não hispânicas, indígenas norte-americanos e adultos com ensino médio completo ou inferior. Esses dados reforçam a necessidade de campanhas de educação e políticas públicas que considerem os recortes sociais e raciais no debate sobre o uso de substâncias.
Apesar do aumento no consumo entre adultos, o uso entre adolescentes caiu na última década, mesmo com a legalização da cannabis em diversos estados norte-americanos. Dados do próprio CDC, divulgados em 2024, mostram que o uso entre estudantes do ensino médio caiu de 23% em 2013 para 17% em 2023. Entre os meninos, a queda foi ainda mais significativa: de 25% para 15% no mesmo período.
Esses dados desmontam o argumento de que a legalização aumentaria o acesso de jovens à planta. Estudos também indicam que, onde há regulação e venda legal, o acesso ilegal por menores de idade tende a diminuir.
O CDC destaca a importância de campanhas educativas que abordem os riscos específicos de cada forma de consumo. Vaporizadores, por exemplo, podem expor o usuário a contaminantes ou adulterantes, enquanto comestíveis e dabs concentram grandes quantidades de THC, o que pode levar a efeitos intensos e inesperados, especialmente para iniciantes.
No entanto, o relatório reconhece limitações na coleta de dados, como possíveis subnotificações motivadas por estigma social e diferenças metodológicas entre os anos pesquisados.
Mais pessoas usam cannabis diariamente do que bebem álcool
Um levantamento recente nos EUA apontou que o uso diário de cannabis já superou o consumo diário de álcool. Além disso, consumidores de maconha se mostraram menos inclinados a afirmar que deveriam reduzir seu uso, ao contrário dos usuários de álcool — reforçando a percepção de que a cannabis pode ser uma alternativa menos nociva em diversos contextos.Outros estudos reforçam que os impactos sociais do uso de álcool ainda são muito mais prevalentes do que os da cannabis. Uma pesquisa publicada no Journal of Studies on Alcohol and Drugs mostrou que danos causados a terceiros por usuários de álcool são seis vezes mais comuns do que os causados por consumidores de cannabis.