Terrance Cole evita apoiar mudança específica para a Tabela III, mas admite que “é hora de avançar” no processo iniciado durante o governo Biden
A nomeação do novo diretor da Agência de Repressão às Drogas dos Estados Unidos (DEA) promete movimentar o debate sobre a política de drogas no país. Durante sabatina no Senado norte-americano nesta terça-feira (30), Terrance Cole, indicado pelo ex-presidente Donald Trump para liderar a DEA, afirmou que a proposta de reclassificação da maconha na lei federal será “uma das minhas primeiras prioridades” se for confirmado no cargo.
“Se for confirmado, essa será uma das minhas primeiras prioridades ao chegar à DEA, para entender onde estamos no processo administrativo”, disse Cole ao senador Alex Padilla (D-CA), membro do Comitê Judiciário do Senado. “Não estou exatamente familiarizado com o ponto em que estamos, mas sei que o processo foi adiado várias vezes — e já é hora de avançar.”
A fala se refere à proposta de mudança da cannabis da Tabela I para a Tabela III da Lei de Substâncias Controladas (CSA), que foi iniciada sob a administração de Joe Biden. Essa mudança representaria o maior avanço federal dos EUA na regulamentação da cannabis em mais de 50 anos, reconhecendo seu uso medicinal e potencial terapêutico.
Apesar da sinalização positiva, Cole evitou declarar apoio explícito à reclassificação proposta. “Preciso entender melhor onde os [órgãos] estão, olhar para a ciência por trás disso, ouvir os especialistas e realmente compreender onde está o processo”, afirmou.
Durante a audiência, Cole também respondeu a questionamentos do senador Thom Tillis (R-NC), declarando que considera “apropriado” criar um grupo de trabalho para lidar com a desconexão entre as leis federais e estaduais sobre a cannabis, que hoje convivem em tensão nos Estados Unidos.
No entanto, Cole já expressou publicamente preocupações sobre os riscos do uso da cannabis, especialmente entre jovens, alegando uma suposta ligação com maiores taxas de suicídio – um argumento controverso que carece de consenso científico e é frequentemente usado por setores conservadores para justificar políticas proibicionistas.
Um passo à frente – e dois atrás?
Enquanto mais da metade dos estados norte-americanos já legalizaram a cannabis para uso medicinal ou adulto, a planta ainda é considerada droga de alto risco sem valor medicinal reconhecido pela legislação federal — um paradoxo que afeta pacientes, profissionais da saúde, pesquisadores e pequenas empresas do setor.
Caso a reclassificação para a Tabela III seja implementada, a cannabis deixaria de ser considerada uma substância “sem valor terapêutico” e passaria a ser tratada de forma mais semelhante a medicamentos controlados, como a codeína. Isso abriria caminho para pesquisas clínicas, prescrição médica e incentivos fiscais, mas ainda manteria restrições severas à produção e ao consumo.
A declaração de Terrance Cole reforça o debate polarizado sobre a cannabis nos EUA, e evidencia os desafios de avançar em uma política pública mais racional, baseada em evidências científicas, justiça social e acesso universal.