Uma revisão sistemática publicada recentemente reuniu evidências sobre o uso da cannabis medicinal no manejo da dor ortopédica, incluindo condições como artrite, dor nas costas, dor pós-cirúrgica e pós-trauma. Os resultados indicam que, embora a substância apresente potencial terapêutico e um perfil de segurança considerado aceitável, ainda são necessários estudos mais robustos para confirmar sua eficácia clínica.
A análise foi conduzida com base em ensaios clínicos randomizados (RCTs), considerados o padrão-ouro da medicina baseada em evidências. Os estudos foram avaliados com o auxílio das ferramentas GRADE e Cochrane, que medem a qualidade das evidências e o risco de viés. A revisão comparou o uso da cannabis com placebo, ausência de tratamento e medicamentos convencionais.
Os pesquisadores identificaram benefícios na redução da dor quando a cannabis foi comparada ao placebo ou à ausência de tratamento. No entanto, os dados ainda são limitados quando comparados com analgésicos tradicionais, como os opioides. Além disso, não há consenso sobre qual a melhor dose, forma de administração ou duração ideal do tratamento.
Mesmo com essas limitações, o perfil de segurança da cannabis se destacou: os efeitos colaterais relatados foram geralmente leves a moderados, o que a posiciona como uma alternativa promissora ou coadjuvante ao uso de opioides — especialmente em um contexto global marcado pela crise de dependência dessas substâncias.
A revisão ressalta que a dor ortopédica é uma das principais causas de afastamento do trabalho e perda de qualidade de vida no mundo, impactando milhões de pessoas e gerando custos elevados aos sistemas de saúde. Com o envelhecimento da população, a tendência é de que esse cenário se agrave nos próximos anos.
O interesse no uso medicinal da cannabis cresce à medida que países como Canadá, Alemanha e diversos estados norte-americanos incorporam a planta aos seus sistemas de saúde. No entanto, a falta de padronização nas pesquisas científicas e as barreiras regulatórias ainda dificultam avanços em outras regiões, como o Brasil.
Um dos principais desafios apontados pela revisão é a ausência de estudos com metodologias rigorosas voltados exclusivamente para a dor ortopédica. Muitos dos ensaios disponíveis têm amostras pequenas, resultados heterogêneos e curto período de acompanhamento, o que limita a generalização dos achados.
A revisão também destacou a necessidade urgente de padronização nas formulações, posologias e vias de administração utilizadas em pesquisas. Esses dados são fundamentais para a construção de protocolos terapêuticos mais eficazes e seguros, especialmente para médicos que buscam alternativas aos opioides no controle da dor.
A revisão conclui que a cannabis medicinal tem potencial para atuar como uma opção segura no tratamento da dor ortopédica, com menos riscos do que medicamentos opioides. No entanto, os autores reforçam a necessidade de novas pesquisas com maior rigor científico para consolidar as evidências e orientar a aplicação clínica da substância nesse contexto.
Leia a revisão completa no link: https://www.cureus.com/articles/354641-the-efficacy-and-safety-of-use-of-cannabis-and-cannabinoid-products-for-pain-relief-in-orthopaedic-conditions-and-trauma#!/