O uso terapêutico de substâncias psicodélicas, como a psilocibina e a ibogaína, foi oficialmente classificado como uma das principais prioridades do governo Trump, segundo o comissário da FDA (Food and Drug Administration), Marty Makary. A afirmação reforça o avanço do debate nos Estados Unidos sobre o potencial médico dessas substâncias, especialmente para tratar veteranos militares que sofrem com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e lesões cerebrais traumáticas.
Em entrevista à emissora NewsNation, Makary criticou o sistema atual de aprovação de medicamentos e pediu celeridade na análise de dados científicos sobre psicodélicos. “Quando se trata de alguns desses psicodélicos e outras terapias baseadas em plantas, acho que não estamos ouvindo os pacientes”, afirmou. “As pessoas me dizem que acreditam que a psilocibina foi bem-sucedida. Foi curativa ou ajudou significativamente em seu transtorno de humor severo.”
Makary também mencionou outras substâncias com potencial terapêutico. “As pessoas me disseram que outros psicodélicos, como o MDMA, foram úteis no tratamento do TEPT. Os médicos me disseram que encaminharam pacientes para essa terapia”, completou. “A ibogaína tem sido usada para tratar TEPT. Há testes em andamento que a investigam para lesões cerebrais traumáticas — algo para o qual nunca tivemos tratamento eficaz no passado.”
FDA quer acelerar avaliação de psicodélicos
Embora o comissário tenha deixado claro que ainda não está endossando oficialmente essas terapias, ele reforçou que a FDA está comprometida em ouvir médicos e pacientes, com o objetivo de eliminar a burocracia excessiva. “Queremos fazer avaliações independentes adequadas, mas precisamos agir com rapidez. Muitos jovens americanos se alistaram para servir seu país e foram enviados para guerras desnecessárias. Eles foram gravemente feridos, e devemos a eles todos os esforços possíveis para buscar o que pode ajudá-los”, destacou.
Makary defendeu uma revisão mais ágil dos ensaios clínicos com psicodélicos. “Temos uma crise agora. E, se esses medicamentos demonstrarem benefício clínico, devemos fazer tudo o que pudermos como governo para dar uma resposta assim que os resultados estiverem disponíveis”, disse. “Tudo precisa estar sobre a mesa. Temos que repensar como avaliamos e consideramos esses medicamentos.”
O apoio à pesquisa com psicodélicos tem ganhado força em diversos setores do governo norte-americano. O secretário de Assuntos de Veteranos (VA), Doug Collins, declarou recentemente ao Congresso que vê com otimismo os primeiros resultados de estudos com psilocibina e MDMA, especialmente quando combinados com psicoterapia intensiva. “Estamos vendo resultados positivos, principalmente relacionados ao TEPT e à lesão cerebral traumática”, afirmou.
O próprio presidente Donald Trump indicou uma defensora do uso terapêutico de psicodélicos para ocupar o cargo de cirurgiã-geral dos Estados Unidos. A médica Casey Means já falou abertamente sobre os benefícios que obteve com o uso da psilocibina.
Parlamentares dos dois partidos também têm se mobilizado. Os deputados Jack Bergman (R-MI) e Lou Correa (D-CA), copresidentes da bancada Congressional Psychedelic Advancing Therapies (PATH), apresentaram um projeto de lei que destina US$ 30 milhões anuais para criar centros de excelência em terapias psicodélicas nos hospitais da rede VA.
Além disso, o Departamento de Assuntos de Veteranos anunciou recentemente o investimento de US$ 1,5 milhão em um estudo para avaliar a eficácia da terapia assistida por MDMA no tratamento de TEPT e transtornos relacionados ao uso de álcool em veteranos.
Uma virada histórica no debate sobre psicodélicos
O posicionamento da atual administração norte-americana marca uma guinada em relação ao histórico proibicionista da política de drogas nos Estados Unidos. Embora o governo Biden tenha iniciado avanços, como a emissão de guias para pesquisadores, o FDA rejeitou um pedido formal para o uso terapêutico do MDMA em pacientes com TEPT.
Agora, com Makary à frente da FDA e o apoio de outros nomes importantes do governo, cresce a expectativa de que substâncias como psilocibina, MDMA e ibogaína possam ser reclassificadas e integradas aos protocolos médicos convencionais.
A possível liberação dessas terapias pode representar uma transformação profunda no cuidado à saúde mental dos veteranos e também abrir caminhos para reformas nas políticas de drogas em escala global — incluindo no Brasil, onde o debate sobre psicodélicos ainda enfrenta resistência, mas começa a ganhar espaço na academia e na sociedade civil.