A Agência de Combate às Drogas dos Estados Unidos (DEA) deveria defender uma proposta para reclassificar a maconha no âmbito da Lei de Substâncias Controladas (CSA), mas a maioria esmagadora dos consumidores de cannabis não confia na agência para cumprir esse papel de forma imparcial, de acordo com uma nova pesquisa.
Um levantamento realizado pela plataforma de telessaúde em cannabis NuggMD, divulgado com exclusividade pelo Marijuana Moment, revelou que 96% dos consumidores de maconha desconfiam da DEA como defensora imparcial da proposta da administração Biden de mover a cannabis da Tabela I para a Tabela III da CSA. Apenas 4% disseram confiar na agência para promover a reforma.
O estudo foi realizado entre 16 e 19 de janeiro, com 677 consumidores de cannabis, e apresentou uma margem de erro de 3,7%.
“É bem simples: os consumidores de cannabis são os mais diretamente afetados pela proibição federal, e a DEA tem o poder de aplicar essas leis”, afirmou Andrew Graham, chefe de comunicações da NuggMD. “Quando uma agência que você supervisiona tem apenas 4% de aprovação de um grupo de interesse, você tem um problema de política, de pessoal, ou ambos.”
A proposta de reclassificação está sendo analisada por um tribunal administrativo da DEA, mas a agência tem evitado esclarecer sua posição sobre o tema, o que aumentou o ceticismo. Essa postura reflete a resistência histórica da DEA a mudanças na classificação da maconha na CSA, e a situação piorou com acusações de que a agência teria se comunicado ilegalmente com testemunhas contrárias à reclassificação.
Além disso, a decisão de não seguir o precedente usual também causou estranheza. Em vez de a proposta ser assinada pela então administradora da DEA, Anne Milgram, foi o procurador-geral Merrick Garland quem endossou o documento.
O processo de reclassificação está atualmente suspenso após um juiz administrativo conceder aos participantes pró-reclassificação a oportunidade de apelar devido às alegações de má conduta da DEA. No entanto, o futuro é incerto, especialmente porque o presidente Donald Trump ainda não indicou um nome definitivo para liderar a agência.
O atual administrador interino, Derek Maltz, pode representar um desafio para os defensores da reforma, caso seja efetivado no cargo. Maltz, que se aposentou da DEA em 2014, tem uma visão rigorosa sobre a maconha, associando seu uso a episódios de violência, como tiroteios em escolas, e defendendo a teoria da “droga de entrada”. Ele também acredita que a legalização nos estados não reduz o mercado ilícito devido aos altos impostos.
Ao mesmo tempo, rumores apontam que Jack Riley, outro ex-oficial da DEA conhecido por também chamar a maconha de “droga de entrada”, está sendo considerado para liderar a agência.
Trump inicialmente havia indicado Chad Chronister, xerife do condado de Hillsborough, Flórida, que apoiava a descriminalização da maconha. No entanto, Chronister retirou sua candidatura após críticas de legisladores conservadores sobre sua gestão de medidas de segurança pública durante a pandemia de COVID-19.
Enquanto isso, a indicada de Trump para procuradora-geral dos Estados Unidos, Pam Bondi, tem evitado se comprometer publicamente sobre como lidará com questões-chave relacionadas à maconha, incluindo a reclassificação e a aplicação de políticas federais, caso seja confirmada no cargo.
O que está em jogo?
A reclassificação da maconha da Tabela I para a Tabela III poderia reduzir barreiras para pesquisas científicas e permitir mais avanços no setor de cannabis medicinal. No entanto, a falta de confiança na DEA por parte dos consumidores, combinada com a incerteza sobre a liderança da agência, evidencia os desafios que essa reforma enfrenta no cenário político e institucional dos Estados Unidos.