Gustavo Petro afirma que política antidrogas liderada pelos Estados Unidos alimenta a violência na América Latina e propõe legalização global da cannabis
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, afirmou que o governo dos Estados Unidos deveria substituir a política de proibição da maconha por um modelo regulatório que permita o uso adulto e a exportação internacional de cannabis. A declaração foi feita em uma publicação recente no X (antigo Twitter), em meio a um embate diplomático com o ex-presidente norte-americano Donald Trump sobre ataques militares a embarcações acusadas de tráfico de drogas.
“Na luta contra as drogas, a Colômbia oferece o dinheiro e as mortes, enquanto os Estados Unidos oferecem o consumo”, disse Petro, destacando que o padrão de consumo norte-americano e europeu é responsável por centenas de milhares de assassinatos na América Latina. Segundo o presidente, são cerca de 300 mil mortes apenas na Colômbia e mais de um milhão em toda a região.
O líder colombiano afirmou ter proposto a Trump uma abordagem oposta à guerra às drogas: remover tarifas sobre produtos agrícolas colombianos e legalizar a exportação de cannabis, tratada “como qualquer outro bem de consumo”. Petro destacou que essa mudança seria coerente com a decisão recente da ONU de reclassificar a cannabis em tratados internacionais, reconhecendo seu potencial medicinal e científico.
Para o presidente, os Estados Unidos deveriam também “fortalecer políticas de prevenção do consumo” e “estudar cientificamente se a proibição é de fato necessária ou se o consumo regulado pelo Estado poderia ser mais eficaz no combate ao narcotráfico e à lavagem de dinheiro”.
As declarações de Petro acontecem no mesmo período em que Trump intensificou críticas ao governo colombiano, chamando o presidente de “líder do tráfico ilegal” e impondo sanções econômicas contra ele, familiares e assessores, por suposta ligação com o narcotráfico.
Enquanto isso, a Colômbia avança internamente rumo à legalização da maconha. Em agosto de 2025, uma comissão da Câmara dos Deputados aprovou a primeira etapa de um projeto que propõe a regulamentação nacional do cultivo e do comércio de cannabis. Petro tem pressionado o Congresso a acelerar o processo, defendendo que a legalização é essencial para reduzir a violência e enfraquecer o mercado ilegal.
Em discursos anteriores, o presidente colombiano já havia denunciado a “hipocrisia” dos Estados Unidos, país que impulsionou a guerra global às drogas e hoje permite a venda legal de cannabis em diversos estados. Em 2023, Petro também liderou a Conferência Latino-Americana e Caribenha sobre Drogas, quando classificou a guerra às drogas como um “genocídio” contra os povos da região.
Desde que assumiu o governo, o colombiano defende uma reforma profunda nas políticas de drogas, incluindo a libertação de pessoas presas por delitos relacionados à maconha e a construção de uma economia legal em torno da planta. “A proibição fracassou. A regulação é o caminho para a paz e a justiça social”, disse Petro em seu discurso na ONU em 2022.
Trump, por sua vez, mantém postura conservadora sobre o tema. Embora tenha reconhecido recentemente que uma decisão sobre a reclassificação da maconha nos Estados Unidos será anunciada em breve, suas ações têm se concentrado em estratégias militarizadas e extrajudiciais contra o tráfico — justamente o tipo de política que Petro afirma perpetuar a violência e o sofrimento na América Latina.
