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Estudo cria glossário científico para aromas da cannabis e contesta papel dos terpenos no cheiro da planta

by Redação

Pesquisadores da Universidade Estadual do Oregon, nos Estados Unidos, desenvolveram um novo glossário para descrever os aromas da cannabis e derrubaram uma crença comum no mercado: o teor de terpenos não é um bom indicador do cheiro de uma variedade da planta. O estudo foi publicado neste mês na revista científica PLOS One.

A equipe reuniu 21 avaliadores sensoriais para analisar 91 amostras de flores de cannabis não queimadas. Cada participante cheirava os exemplares e selecionava os termos aromáticos que melhor descreviam cada um deles. A partir disso, os cientistas criaram um vocabulário composto por 25 descritores oficiais, como “herbal”, “cítrico” e “amadeirado” — os mais frequentes entre as 8.075 marcações feitas.

O objetivo foi estabelecer uma base científica para padronizar a forma como aromas da cannabis são classificados por pesquisadores, empresas e consumidores. Segundo os autores, o glossário não é definitivo, mas representa um passo essencial para a criação de um sistema sensorial confiável e replicável.

Embora a indústria frequentemente associe o cheiro das plantas aos terpenos, os pesquisadores afirmam que essa relação é limitada. A análise química revelou agrupamentos claros de terpenos, mas eles não correspondiam aos perfis aromáticos percebidos pelos avaliadores.

“Os perfis de terpenos sozinhos não preveem o caráter sensorial”, diz o estudo. Apenas o composto terpinoleno mostrou associação consistente com os aromas “cítrico” e “químico”. No geral, nem a concentração total de terpenos nem a presença de compostos sulfurados foram bons indicadores do aroma sentido.

O estudo também observou que flores com alto teor de THC e baixo CBD foram mais descritas como “skunk” (cheiro de gambá), “úmido” e “animal”. Já variedades com mais CBD e menos THC foram associadas a aromas “cítricos”, “frutados” e “adocicados”.

Os autores criticam a dependência do mercado em características como teor de THC e promessas de efeitos, classificadas como imprecisas, e defendem que o aroma é o único preditor confiável de satisfação do consumidor.

O que realmente define o cheiro da cannabis?

Os pesquisadores sugerem que outras classes de compostos — como ésteres, aldeídos e moléculas voláteis ainda pouco estudadas — podem ter papel mais importante no aroma da cannabis, isoladamente ou em combinação com os terpenos.

Eles defendem a ampliação futura do glossário, com mais amostras e inclusão de dados de preferência de consumidores. Também recomendam que fatores como origem da plantação, maturação colheita, secagem, armazenamento e forma de poda sejam incorporados em estudos sensoriais.

O trabalho se soma a outras pesquisas recentes que vêm questionando a forma como a cannabis é rotulada e comercializada. Estudos publicados em 2022 mostraram que os nomes das cepas (“sativas”, “indicas”) são inconsistentes e não correspondem à composição química real. Outro trabalho identificou dezenas de compostos aromáticos antes desconhecidos.

Há ainda indícios de que a pressão do mercado por plantas mais potentes e produtivas está reduzindo a biodiversidade genética da cannabis no mundo.

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