Parceria com a Embrapa destaca potencial agroindustrial da cannabis e reforça importância do cultivo nacional
Começou na quinta-feira (22), no Expo Center Norte, em São Paulo, o 4º Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal (CBCM), que nesta edição dá protagonismo ao agronegócio com o lançamento do módulo Agro Tech Cannabis, voltado ao cultivo e desenvolvimento do cânhamo industrial. A iniciativa ocorre em parceria com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e acontece simultaneamente à Medical Cannabis Fair, feira que reúne mais de 100 marcas do setor.
A programação reforça a importância estratégica do cânhamo — variedade da Cannabis sativa com baixos teores de THC — para o Brasil. Com alto potencial de uso industrial, o cânhamo é uma cultura regenerativa, de baixa emissão de carbono, com aplicações que vão da construção civil sustentável aos cosméticos, passando por tecidos, bioplásticos, alimentos e biocombustíveis.
De acordo com Daniel Jordão, diretor da Sechat, promotora do evento, discutir o cultivo é essencial para o desenvolvimento sustentável da cadeia da cannabis no Brasil. “Não faz sentido depender de matéria-prima importada quando temos solo, clima e tecnologia para sermos líderes globais em cânhamo industrial”, afirma.
Essa visão é reforçada por Rafael Arcuri, presidente da Associação Nacional do Cânhamo Industrial, que destaca os benefícios ambientais e agronômicos do cânhamo. “É uma planta que consome pouca água, reduz o uso de defensivos agrícolas e ajuda na recuperação do solo. O cânhamo representa um novo paradigma para um agro mais limpo e inteligente”, defende.
Cannabis medicinal e regulamentação em pauta
A abertura do congresso acontece poucos dias após a Advocacia-Geral da União (AGU) protocolar na Justiça um plano de ação para regulamentar e fiscalizar o acesso a tratamentos com medicamentos à base de cannabis no Brasil. A movimentação institucional sinaliza que o debate sobre o cultivo e o uso medicinal da cannabis avança também nos bastidores do governo federal.
A cientista Beatriz Marti Emygdio, presidente do Comitê Permanente de Assessoramento Estratégico da Cannabis na Embrapa, destacou a relevância do momento. “Estamos celebrando não só os 10 anos da regulamentação do uso medicinal no Brasil, mas também a iminente regulamentação do cultivo do cânhamo com até 0,3% de THC, prevista para setembro”, afirma.
Para Beatriz, o estabelecimento de cadeias produtivas nacionais de cannabis medicinal demanda debates técnicos e políticas públicas sérias. “É preciso olhar para a cadeia completa, do campo à indústria, para garantir desenvolvimento econômico, acesso e inovação tecnológica com responsabilidade”, pontua.
Além da medicina: cannabis é também negócio
O congresso ainda conta com módulos voltados às aplicações medicinais e científicas da cannabis, como:
- MedCan – Especialidades (uso clínico em diferentes áreas da medicina),
- MedCan – Sistema Endocanabinoide (formação básica e fisiologia),
- Vet Cannabis (uso veterinário em animais domésticos e de produção),
- Odonto Cannabis (aplicações em dor, estética e inflamação bucal).
Complementando a agenda, o módulo Business Cannabis aborda temas como judicialização, investimentos e tendências de mercado.
Feira reúne ecossistema da cannabis
A Medical Cannabis Fair, evento paralelo ao congresso, reúne cerca de 60 estandes com soluções inovadoras de empresas dos setores farmacêutico, agrícola, cosmético, biotêxtil, bioinsumos e construção sustentável. Além disso, a programação inclui rodadas de negócios, painéis sobre políticas públicas, startups e investidores.
O Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal e a Medical Cannabis Fair acontecem até sábado (24), com parte da programação transmitida ao vivo. O evento ocorre no Expo Center Norte (Rua José Bernardo Pinto, 333 – Vila Guilherme, São Paulo).
Com informações da Agência Brasil.