A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) reúne todas as condições para dar início às pesquisas voltadas para a produção de cânhamo no Brasil, mesmo não dispondo de um banco de germoplasma com variedades de cannabis. Essa foi uma das afirmações da pesquisadora Daniela Bitencourt, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília-DF) ao listar uma série de vantagens econômicas, sociais e agronômicas que o Brasil pode obter com o cultivo da planta.
Bittencourt defendeu a pesquisa dessa cultura em apresentação na Comissão de Desenvolvimento Econômico da Câmara dos Deputados, na última terça-feira (12), quando representantes de instituições públicas e privadas debateram o tema Cânhamo e autonomia nacional na produção de canabinoides. Segundo Daniela Bittencourt, que atua no Laboratório de Biologia Sintética, são inúmeras as perspectivas positivas para o setor agropecuário, caso a Embrapa seja autorizada a desenvolver pesquisas com cannabis.
Ela entende que o cânhamo é o caminho para a autonomia nacional na produção de canabinoides. Se hoje o país importa óleo de cannabis e fármacos, teria condições de ter soberania com o plantio de diferentes variedades, adaptadas às diferentes regiões brasileiras.
“Eu, como cientista, não posso deixar de dizer que o conhecimento ilumina caminhos, abre portas, quebra paradigmas e porque não dizer, inclusive, preconceitos. Porque não começarmos da forma correta e incentivarmos a pesquisa com cannabis no Brasil?”, afirmou a pesquisadora.
Entenda melhor
Segundo a pesquisadora a importação de plantas para dar início às pesquisas naturalmente passaria pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia – Unidade que detém o mandato da Quarentena Vegetal, local onde, de forma estratégica, ocorre a proteção fitossanitária do material vegetal destinado à pesquisa que entra no território nacional.
A elaboração de um projeto detalhado, com metodologia, população-alvo, coleta de dados e análise dos resultados e possíveis impactos seria o primeiro passo para regulamentar a pesquisa com Cannabis no país (lembrando que a Lei 11.343/2006 – Política Nacional sobre Drogas, atualizada pela Lei 13.840/2019: permite o uso médico e científico de todas as substâncias controladas pelos tratados internacionais).
A pesquisadora apontou as vantagens econômicas, sociais e ecológicas que os produtores e agricultores familiares podem obter com as funções agronômicas da cannabis, entre elas estão: zero desperdício, pois todas as partes da planta podem ser aproveitadas ou posteriormente transformadas. Além disso, a planta ajuda a regenerar os solos degradados e pode melhorar significativamente as vantagens provenientes da rotação de culturas.
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Se, atualmente, uma das preocupações com o plantio e produção da cannabis no país é o componente THC (molécula psicoativa da planta), por que não usar a edição gênica a favor? observou Daniela Bittencourt ao lembrar que também é possível tentar uma modificação da via metabólica ou, ainda, ter mais precisão na quantidade dos componentes da Cannabis.
“Podemos ter qualidade e, inclusive, desenvolver plantas com características fenotípicas específicas para a aplicação na medicina e indústria”, sustentou a pesquisadora observando que a Embrapa tem expertise em tecnologias voltadas para a resistência às pragas, às condições climáticas adversas, podendo otimizar a produção a partir de estudos de técnicas de manejo consorciados.
A Embrapa tem capacidade de trabalhar e auxiliar com o desenvolvimento de variedades de Cannabis que não apresentem substâncias psicoativas. Os diferentes aspectos que envolveriam a pesquisa sobre cannabis na Embrapa podem ocorrer envolvendo as expertises da empresa em suas diferentes Unidades, agregando equipes que atuam com biologia sintética, edição gênica, meio ambiente, melhoramento genético, entre outras. Foram equipes com essa gama de conhecimento que colocaram o trigo em áreas até então nunca pensadas – como no Cerrado, ou ainda, a uva no Semiárido brasileiro.
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