Sono de qualidade é muito importante e cada dia mais a insônia pode ser considerada um problema de saúde pública. Ela é caracterizada pela dificuldade em iniciar ou manter o sono que ocorre em média três vezes por semana, por um período mínimo de 3 meses. Cerca de um terço a metade da população adulta tem sintomas ligados ao sono em algum momento de suas vidas. Na atenção primária, até 69% dos pacientes se queixam de sintomas ocasionais de insônia. Psicoterapia, mudanças nos hábitos de vida e farmacoterapia são as principais abordagens e de forma promissora: a cannabis medicinal.
Muitos paciente diante da falha de medidas não farmacológicas, recebem prescrição de benzodiazepínicos, aqueles terminados em “PAM” com a receitinha azul. Você sabia que a bula garante segurança de uso contínuo por apenas 4 meses? Ao contrário do que temos visto com o uso indiscriminado dessas medicações, inclusive em idosos. Isso ocorre justamente por estes fármacos levarem a dependência, síndrome de abstinência, além de comprometimento de funções mentais e motoras.
Como alternativa mais segura e opção para livrar-se da dependência temos os canabinoides, que estão associados à promoção do sono de movimento rápido dos olhos (REM), aquele relacionado à consolidação da memória e à indução do sono não REM, relacionado a funções fisiológicas, como disposição, regulação hormonal e imunológica. Outros processos fisiológicos são modulados pelos mesmos canabinoides: como apetite, humor, aprendizado, atividade locomotora, etc, e podem ser ganhos secundários quando se inicia um tratamento direcionado aos distúrbios do sono. Temos também propriedades analgésicas, ansiolíticas, anti-inflamatórias e antiespasmódicas, que muitas vezes são desejáveis aos pacientes insones .
A ampla distribuição dos receptores CB1 no cérebro, encontrados na maioria das redes de regulação do sono, fornece múltiplas possibilidades de atuação. O famoso THC, excelente indutor do sono é justamente um “ativador” de tais receptores. As propriedades da cannabis em relação aos distúrbios do sono são reconhecidas há séculos. Os primeiros estudos que correlacionaram o traçado de eletroencefalograma aos efeitos do THC sobre os parâmetros do sono foram publicados há quase 50 anos.
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O panorama atual são cerca de 80 estudos científicos que examinaram a ação dos derivados canabinoides em distúrbios do sono. Desses, 24 estudos foram conduzidos em humanos, incluindo Ensaios clínicos randomizados (ECR) duplo-cegos. Schloss et al. (2021) conduziram um recente ECR na Austrália em pacientes com glioma de alto grau (tumor cerebral altamente invasivo), e demonstraram que uma única dose noturna de cannabis medicinal contendo THC melhorou significativamente o sono, o bem-estar funcional e a qualidade de vida desses pacientes.
Algumas investigações sugerem que o CBD também pode afetar a qualidade do sono por meio de seus efeitos ansiolíticos. No entanto, é importante pontuar que a administração desse fitocanabinoide pode ter efeitos duais, dependendo da dose. O CBD em baixas doses pode ter efeitos estimulantes, enquanto que em altas doses pode induzir efeitos sedativos, reduzindo o número de despertares noturnos e aumentam o tempo total de sono.
As evidências atuais sugerem que alguns distúrbios específicos do sono podem ser particularmente melhorados com tratamentos à base de cannabis: apneia obstrutiva do sono, pesadelos relacionados ao transtorno de estresse pós-traumático, síndrome das pernas inquietas, distúrbio comportamental do sono REM e narcolepsia. Apesar de resultados promissores em vários dos estudos já publicados e da segurança robusta dos fitocanabinoides, há grande heterogeneidade nos ensaios clínicos disponíveis (metodologia, contexto clínico, canabinoide utilizado, posologia e tamanhos de amostra) sendo ainda necessário evidências clínicas substanciais e de alto grau.
Ficou curioso(a) como seria esse sono de qualidade e quer saber mais benefícios dessa planta? Continue acompanhando minha coluna. Um abraço da Dra. Sâmara Bastos
* Sâmara Bastos é médica de família e comunidade – residência médica no hospital Odilon Behrens. Pós graduada em psiquiatra pelo Hospital Albert Einstein Rio de Janeiro e tem certificação internacional de medicina endocanabinoide WeCann, para prescrição de cannabis medicinal.