A recente operação da Polícia Federal, que culminou na destruição de mais de 400 plantas de cannabis em Caçapava do Sul (RS), é mais um capítulo da guerra irracional travada contra a medicina canábica no Brasil. Com essa ação, cerca de 900 pacientes podem ficar sem acesso aos óleos terapêuticos de que dependem. O motivo? Uma interpretação fria e ultrapassada da lei, que ignora tanto a ciência quanto a jurisprudência favorável ao cultivo para fins medicinais.
A Ascamed, associação que viabiliza esse tratamento, tem buscado respaldo jurídico para operar dentro da legalidade. Mesmo assim, seus esforços não foram suficientes para evitar que a mão pesada do Estado caísse sobre sua plantação – o que levanta uma pergunta inevitável: quem está realmente sendo protegido por essa repressão? Certamente não são os pacientes.
O Brasil assiste, perplexo, a um Judiciário que concede salvo-condutos individuais para o cultivo medicinal de cannabis, mas um Executivo que insiste em destruir plantações inteiras, deixando centenas de pessoas sem medicamento. A incoerência é evidente: um paciente que consegue uma liminar pode plantar, mas uma associação que atende a muitos é tratada como criminosa.
A destruição dessas plantas não afeta só humanos. A própria Ascamed destacou que animais também dependem dos óleos medicinais, reforçando a dimensão do impacto causado. São vidas interrompidas, tratamentos abruptamente suspensos, tudo por uma política de repressão que se recusa a enxergar a cannabis pelo que ela é: um remédio.
Não há justificativa razoável para uma operação desse porte contra uma associação que se pauta na ciência e no direito. O que há, na verdade, é um sistema que resiste a reconhecer a cannabis medicinal como política de saúde pública, perpetuando o sofrimento de pacientes e o obscurantismo jurídico.
A Ascamed já anunciou que tomará as medidas legais cabíveis, mas o estrago está feito. Quem responde pelo sofrimento dessas 900 pessoas? Quem justifica a interrupção de seus tratamentos? Se há algo que precisa ser erradicado no Brasil, não é a cannabis medicinal – e sim a hipocrisia que criminaliza quem luta pelo direito à saúde.