Com o tema “Não é só pela Maconha”, manifestantes colocam em pauta a crise climática, a liberdade dos corpos e o genocídio contra a juventude negra e periférica
A Marcha da Maconha Curitiba se fortalece em meio a avanços globais e a decisão histórica do Supremo Tribunal Federal (STF) de descriminalizar o porte para uso pessoal. Este ano, a Marcha acontece no próximo domingo (29). A concentração é na Boca Maldita, a partir das 14h20. A Marcha terá início às 16h20, com destino à Praça 19 de Dezembro.
Com o aumento da regulamentação do uso medicinal e social/adulto – antes chamado de recreativo – em diversos países, o movimento pela legalização da Maconha ganha cada vez mais fôlego. Em 2023, cerca de 10 mil pessoas tomaram as ruas de Curitiba: um nítido reflexo do crescente apoio popular à causa.
Em um cenário ainda mais favorável, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de descriminalizar o porte da substância para uso pessoal marca um ponto de inflexão importante. No entanto, a Marcha da Maconha deste ano vai além dessa vitória jurídica, trazendo o tema “Não é só pela Maconha” para os debates centrais. O lema chama atenção para questões mais profundas: as desigualdades sociais e a violência sistêmica agravadas pela política de drogas no Brasil, com ênfase para o genocídio da juventude negra.
Dados da Unicef e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que adolescentes negros têm 4,4 vezes mais chances de serem mortos do que adolescentes brancos, evidenciando a necessidade urgente de uma mudança estrutural.
Outras bandeiras também levantadas pelo movimento são:
- A superação da crise climática: A Marcha chama atenção para a necessidade urgente de ações que enfrentem as mudanças climáticas e seus impactos devastadores, principalmente para as populações mais vulneráveis. A crise ambiental está interligada com a exploração de terras e com a exclusão de pessoas, principalmente periféricas
- Vida e dignidade das mulheres: A luta pela legalização da maconha também é uma luta pela autonomia das mulheres. A Marcha reforça a importância de garantir direitos reprodutivos, de enfrentar a violência de gênero e de promover a igualdade em todos os âmbitos da sociedade.
- Liberdade da planta e de todos os corpos: A Marcha defende a liberdade não apenas da planta, mas também dos corpos marginalizados e criminalizados pela política de drogas. O movimento social busca desmantelar as estruturas de repressão e controle dos corpos, que afetam desproporcionalmente a população negra e periférica.
- Farmácias Vivas: A Marcha também apoia a implantação do programa “Farmácias Vivas”, previsto na política do SUS e na política nacional de fitoterápicos, que educa, instala cultivos comunitários e promove o uso racional de plantas medicinais no tratamento de diversas condições de saúde. A maconha é uma dessas plantas, e o movimento acredita no acesso ampliado à medicina natural e popular.
A Marcha da Maconha Curitiba sempre representou mais do que apenas a legalização da maconha, levantando as bandeiras de resistência ao racismo estrutural, ao patriarcado, à destruição ambiental e ao encarceramento em massa.
Para os manifestantes, os danos causados pela proibição das drogas superam os efeitos das próprias substâncias. A criminalização tem aprofundado desigualdades e incentivado o encarceramento em massa das populações mais vulnerabilizadas.
O movimento da Marcha da Maconha vai além de uma simples demanda por mudanças na legislação. Ele compreende que a proibição das drogas é irracional, fundamentada em preconceitos e sustentada por interesses econômicos e políticos. A Marcha também reivindica a criação de novas políticas públicas sobre drogas – como a Redução de Danos – que não apenas regulamentem a planta, mas que também promovam reparações históricas e sociais às populações historicamente mais afetadas pela falsa guerra às drogas.
Com 18 anos de história em Curitiba, a Marcha envolve uma ampla diversidade de coletivos, associações e grupos, de ativistas a mães e familiares de pacientes que fazem uso de maconha para fins terapêuticos. Esse amplo espectro de participação reforça a ideia de que a luta pela legalização é uma luta por dignidade, saúde e justiça social. A Marcha acolhe todos os setores da sociedade, e a participação no movimento é aberta a qualquer pessoa – não é necessário ser usuário para apoiar a causa.
SERVIÇO
Marcha da Maconha Curitiba, 2024
Saída: Boca Maldita (Rua XV de Novembro, próximo à Praça Osório)
Data: 29/09/2024
Horário: Concentração às 14h20, saída às 16h20