Relatório revela queda discreta nas detenções, mas inconsistências nos dados levantam dúvidas sobre a precisão das estatísticas
Quase 188 mil pessoas foram presas por posse de maconha nos Estados Unidos em 2024, segundo o relatório anual mais recente do FBI. Outras 16 mil foram detidas por supostamente vender ou cultivar a planta. Apesar de representar uma leve redução em relação a 2023, especialistas apontam que os números provavelmente estão subestimados devido a falhas metodológicas e inconsistências na coleta de dados.
Os dados integram o Uniform Crime Reporting Program (UCR), responsável por monitorar tendências criminais em nível nacional e que cobre cerca de 95% da população americana. Segundo o relatório, as prisões por posse caíram de 200.306 em 2023 para 187.792 em 2024, enquanto as detenções por venda ou cultivo diminuíram de 16.844 para 16.244.
Mesmo com a queda, a maconha continua sendo a substância ilícita mais associada a prisões nos Estados Unidos. O relatório mostra que 27% de todas as detenções por posse de drogas envolvem cannabis. Para o vice-diretor da NORML, Paul Armentano, os números confirmam que “a guerra às drogas ainda é movida, em grande parte, pela criminalização da maconha”.
Além de refletir práticas desiguais entre estados, o relatório também expõe problemas internos do FBI. O documento apresenta diferentes totais para categorias semelhantes de infrações, com variações de até 400 mil registros entre tabelas. A agência reconhece que parte dos dados é estimada com base em projeções — já que a participação das polícias locais e estaduais no envio de informações é voluntária.
Críticos apontam que tais falhas comprometem a confiabilidade do relatório. Desde 2022, o ativista Eric Sterling vem alertando o governo sobre erros nos registros, como o caso de um departamento de polícia de Maryland que classificava notificações civis de porte de maconha como prisões criminais. A inconsistência, segundo ele, distorce os índices nacionais e prejudica o debate sobre políticas públicas de drogas.
O FBI reconhece que a variação nos níveis de cooperação entre agências locais ao longo dos anos dificulta comparações diretas com relatórios anteriores. Ainda assim, a tendência geral aponta uma redução de 43% nas infrações ligadas a drogas desde 2015.
Enquanto isso, a Agência de Combate às Drogas (DEA) ainda não avançou no processo de reclassificação da maconha, que poderia movê-la da Lista I para a Lista III da Lei de Substâncias Controladas — uma medida que reduziria restrições à pesquisa, mas não legalizaria o uso recreativo. O impacto dessa eventual mudança sobre as taxas de prisão ainda é incerto.
