Debate gira em torno da tradução de um ingrediente citado no Antigo Testamento, que alguns estudiosos acreditam se referir à cannabis
Uma teoria que divide acadêmicos sugere que a cannabis — a planta mais consumida no mundo — pode ter sido utilizada por Jesus e seus apóstolos em rituais de unção e nos relatos de cura presentes na Bíblia.
A discussão se baseia em uma passagem do livro do Êxodo (30:22-25), que descreve a receita do “óleo sagrado da unção”. Entre os ingredientes listados estão mirra, canela, cássia, azeite e uma erva chamada q’aneh-bosm. Para alguns pesquisadores, esse termo teria sido erroneamente traduzido como “cálamo”, quando na verdade poderia se referir à cannabis.
A hipótese foi levantada em 1936 pela etimóloga polonesa Sula Benet. Segundo ela, o radical kan significa “cânhamo” e bosm quer dizer “aromático”, indicando que o óleo descrito no Antigo Testamento poderia conter derivados da planta.
No entanto, a teoria não é consenso. Lytton John Musselman, professor de Botânica na Universidade Old Dominion (EUA), contesta a interpretação, afirmando que a tradução correta é mesmo cálamo (Acorus calamus), planta aromática conhecida por suas propriedades medicinais e utilizada até hoje na medicina ayurvédica e em práticas tradicionais de povos nativos da América do Norte.
Apesar das divergências, o debate sobre a possível presença da cannabis em contextos bíblicos segue vivo. Para alguns estudiosos, a teoria representa apenas uma curiosidade histórica. Para outros, pode abrir caminho para compreender como práticas espirituais antigas estavam ligadas ao uso de plantas com propriedades terapêuticas.
