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Embaixada dos EUA alerta contra o uso da ayahuasca no Peru, mas ignora benefícios terapêuticos

by Redação

A Embaixada dos Estados Unidos em Lima, no Peru, emitiu um alerta desencorajando cidadãos norte-americanos a usarem ayahuasca, uma bebida ancestral da medicina indígena, amplamente utilizada em rituais terapêuticos e espirituais na Amazônia. Segundo o comunicado, a ayahuasca “contém dimetiltriptamina (DMT), um forte alucinógeno ilegal nos Estados Unidos e em diversos outros países”. A nota oficial ainda menciona possíveis riscos à saúde e sugere que o uso da substância pode aumentar a vulnerabilidade a crimes como assaltos e agressões sexuais.

A advertência também inclui o kambô, uma secreção extraída da rã Phyllomedusa bicolor, utilizada tradicionalmente por comunidades indígenas para fins medicinais e de fortalecimento imunológico. A embaixada alega que os centros que oferecem esses tratamentos no Peru “não são regulamentados pelo governo” e podem não seguir protocolos de segurança.

Demonização versus evidências científicas

Apesar da postura alarmista da diplomacia norte-americana, estudos científicos apontam para os benefícios da ayahuasca no tratamento de transtornos como depressão, ansiedade e estresse pós-traumático (TEPT). Pesquisas realizadas em diversas partes do mundo demonstram que a bebida, quando administrada em ambiente seguro e com acompanhamento adequado, pode proporcionar experiências terapêuticas profundas, ajudando inclusive veteranos de guerra a lidarem com traumas psicológicos.

Em 2024, o ex-candidato republicano à presidência dos EUA, Vivek Ramaswamy, defendeu a descriminalização da ayahuasca e da MDMA para veteranos, como parte de uma abordagem mais ampla para reduzir as taxas alarmantes de suicídio entre ex-combatentes. “Mais de 20 veteranos morrem por suicídio diariamente nos EUA. Isso é inaceitável. Apoio a descriminalização da ayahuasca e da cetamina para o tratamento do TEPT e a prevenção do abuso de fentanil e do suicídio”, declarou em suas redes sociais.

Reconhecimento religioso nos EUA, mas proibição persiste

A hipocrisia do governo norte-americano em relação à ayahuasca fica evidente quando se observa que, em 2023, um acordo judicial permitiu que uma organização religiosa no Arizona importasse e utilizasse a substância como sacramento espiritual. A decisão foi considerada um marco para a liberdade religiosa nos EUA. No entanto, outras instituições que tentaram obter reconhecimento semelhante enfrentaram barreiras, mostrando que a política de drogas segue sendo aplicada de maneira arbitrária.

Enquanto isso, a própria Agência de Fiscalização de Drogas (DEA) vem aumentando as cotas de produção legal de DMT, psilocibina e THC para pesquisa científica. O objetivo declarado é incentivar estudos que possam resultar na aprovação de medicamentos psicodélicos pela FDA, o equivalente norte-americano à Anvisa.

A tentativa de desestimular o uso da ayahuasca com argumentos proibicionistas ignora o contexto cultural e histórico da substância, além de desconsiderar os riscos associados à criminalização das práticas tradicionais. No Brasil, o uso ritualístico da ayahuasca é protegido por lei e reconhecido como parte do patrimônio cultural de comunidades religiosas e indígenas.

A demonização de substâncias psicodélicas contrasta com os avanços da ciência e o reconhecimento de suas aplicações terapêuticas. Em vez de reforçar o medo e o preconceito, o caminho mais sensato seria investir em regulamentação e informação, garantindo que aqueles que buscam experiências terapêuticas com a ayahuasca possam fazê-lo com segurança e respeito às tradições ancestrais.

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