Uma agência federal dos Estados Unidos lançou uma série de relatórios científicos para investigar o uso da maconha medicinal no tratamento do câncer, com especial atenção ao seu potencial como alternativa aos opioides para alívio da dor. Os estudos foram publicados em uma edição especial do “JNCI Monographs”, da “Journal of the National Cancer Institute”, e buscam responder a questões centrais sobre o uso da cannabis por pacientes oncológicos, como o acesso, custo, padrões de comportamento, comunicação entre médicos e pacientes, e os motivos para o uso da substância.
Um dos principais focos da pesquisa é o uso da maconha como substituta dos opioides, drogas amplamente prescritas para o controle da dor, mas que trazem riscos de dependência e efeitos colaterais severos. O estudo foi realizado com base em levantamentos realizados em 12 centros oncológicos designados pelo governo em várias regiões dos EUA, abrangendo estados onde a cannabis é legal, permitida apenas para uso medicinal, ou proibida.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (NCI), que coordena o projeto, o objetivo é preencher lacunas importantes de conhecimento, como entender de que forma os pacientes com câncer acessam e utilizam a cannabis, e avaliar os riscos e benefícios associados ao seu uso. Outra questão relevante é verificar se os pacientes discutem o uso de maconha com seus médicos durante o tratamento.
Um dos estudos descobriu que o uso de cannabis variou apenas ligeiramente de acordo com o status legal da substância nos estados dos pacientes. Cerca de 34,3% dos pacientes em estados onde a maconha é legal relataram o uso da substância, enquanto 31,5% em estados onde é permitida apenas para fins médicos e 24,7% onde é ilegal também relataram o uso. No total, quase um terço dos pacientes oncológicos (32,9%) afirmou utilizar a maconha principalmente para tratar sintomas como dor, insônia e mudanças de humor, com a percepção de que os benefícios superavam os riscos.
Além disso, um estudo sobre os custos apontou que o gasto médio mensal dos pacientes com maconha era de US$ 80. Homens e pessoas com mais de 45 anos gastavam mais de US$ 100 por mês. Entre os que interromperam ou reduziram o uso de cannabis, 28% citaram o custo como principal fator, enquanto 26% atribuíram a decisão à falta de cobertura do seguro de saúde.
A pesquisa também revelou que 43,4% dos pacientes usaram cannabis em vez de opioides para controlar a dor. A maioria dos que optaram pela maconha afirmou que a substância era mais segura, menos viciante e tinha menos efeitos colaterais do que os opioides.
Rebecca Ashare, professora da Universidade de Buffalo e principal autora de um dos estudos, destacou que as diretrizes médicas sobre o uso da maconha para pacientes com câncer ainda não refletem a prática dos pacientes. Ashare defendeu a necessidade de uma melhor capacitação dos profissionais de saúde para que possam orientar adequadamente os pacientes sobre o uso de cannabis e opioides de forma conjunta.
Os resultados dessa pesquisa se somam a um crescente corpo de estudos que investiga o uso da cannabis como alternativa terapêutica no tratamento de sintomas relacionados ao câncer e como uma possível solução para a crise de opioides nos EUA.