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Uso de psicodélicos está associado a 25% menos chances de enxaquecas frequentes

by Redação

Uma nova pesquisa sugere que pessoas que já usaram psicodélicos clássicos, como psilocibina (presente nos chamados cogumelos mágicos) e LSD, têm menos probabilidade de sofrer com enxaquecas frequentes. O estudo, publicado no Journal of Pharmacology, reforça as evidências de que essas substâncias podem ser uma alternativa viável para tratar distúrbios primários de cefaleia no futuro.

A pesquisa analisou dados de 11.419 registros coletados entre 1999 e 2000 pelo British Child Development Study 1958, que acompanha indivíduos nascidos em uma única semana de março de 1958. Os pesquisadores compararam as respostas dos participantes sobre três questões: “Você costuma ter dores de cabeça fortes?”, “Já experimentou LSD?” e “Já experimentou cogumelos mágicos?”. Os resultados mostraram que quem já fez uso de psicodélicos clássicos apresentou uma redução de 25% na probabilidade de relatar dores de cabeça frequentes.

Embora o estudo tenha um caráter observacional e não permita estabelecer uma relação causal direta, os pesquisadores levantam algumas hipóteses para os resultados. Uma possibilidade é que os psicodélicos realmente tenham um efeito preventivo contra crises de enxaqueca. Outra explicação seria que pessoas com dores de cabeça crônicas tendem a evitar essas substâncias, o que poderia influenciar a associação observada.

Outros dados do levantamento reforçam essa hipótese: o consumo baixo de álcool foi relacionado a uma maior ocorrência de dores de cabeça, o que os pesquisadores interpretaram como uma possível escolha consciente das pessoas que sofrem com enxaquecas, já que o álcool é um gatilho conhecido para crises.

O estudo também destacou diferenças entre homens e mulheres. No geral, 16% dos participantes relataram dores de cabeça frequentes, sendo 71% mulheres e 29% homens. Entre as mulheres que já usaram psicodélicos, a redução na incidência de enxaquecas foi ainda maior: 30%. Para os homens, a relação não foi significativa, o que pode estar ligado a fatores como o maior consumo de álcool e outras drogas nesse grupo, além da menor incidência de enxaquecas entre a população masculina.

Pesquisadores do Karolinska Institutet, na Suécia, afirmam que os achados justificam estudos mais aprofundados sobre o uso de psicodélicos no tratamento de cefaleias, incluindo enxaquecas e dores de cabeça em salvas.

Nos Estados Unidos, a ideia já vem ganhando força. Um relatório do U.S. Government Accountability Office (GAO) destacou os psicodélicos como uma abordagem promissora para tratar enxaquecas e dores crônicas, enquanto estudos financiados pelo governo federal investigam seus efeitos na dor, transtornos psiquiátricos e outras condições médicas.

Além disso, a pauta já chegou ao debate político. No mês passado, a deputada republicana de New Hampshire, Kathleen Paquette, compartilhou como as dores de cabeça em salvas afetam sua vida e defendeu a descriminalização da psilocibina. Segundo Paquette, a substância pode interromper ciclos de dor intensa e permitir períodos prolongados de remissão com doses mínimas ou até mesmo uma única dose.

“Quando não há outra alternativa eficaz, uma única dose pode trazer alívio depois de anos de sofrimento. Isso devolve dignidade às pessoas e pode salvar vidas”, afirmou a deputada.

No Brasil, onde o acesso a tratamentos inovadores ainda é limitado por entraves burocráticos e pelo proibicionismo, o avanço das pesquisas internacionais reforça a necessidade de um debate mais amplo sobre o potencial terapêutico dos psicodélicos. Se a ciência já reconhece os benefícios dessas substâncias para transtornos como depressão e ansiedade, por que não considerar sua aplicação no tratamento de enxaquecas e dores crônicas?

O futuro da medicina psicodélica depende da superação de preconceitos e da construção de uma política de drogas baseada na ciência e na saúde pública. Enquanto isso, cada novo estudo reforça o que muitos pacientes já sabem na prática: os psicodélicos podem ser uma ferramenta poderosa para o alívio da dor e para a melhoria da qualidade de vida.

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