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Seminário internacional debate o futuro da cannabis

Evento contou com médicos, advogados, pesquisadores, associações, pacientes e ativistas

by contato

Os avanços e desafios da cannabis foram debatidos na terceira edição do seminário internacional Cannabis amanhã: um olhar para o futuro, que ocorreu no último final de semana no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM). O evento promovido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pela Associação de Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis Medicinal (Apepi) reuniu médicos, advogados, pesquisadores, associações, pacientes e ativistas.

O neurocientista Sidarta Ribeiro, abriu o primeiro dia de evento falando sobre o aumento nos últimos anos do número de pesquisas e do uso legal de cannabis no Brasil. “Isso acontece muito pela ação de familiares e de pacientes organizados em associações. São milhares de pessoas que fazem tratamento medicinal com a cannabis e que há 10 anos não se imaginaria. Tem um monte de gente que tem autorização para importar, que consegue comprar na farmácia, mas infelizmente ainda está fora da realidade da maioria da população devido o alto preço.”

Para Sidarta, a proibição da cannabis no Brasil não cumpriu o que prometeu de diminuir o uso recreativo da substância e a violência envolvida no mercado ilegal da planta. “As pessoas estão se conscientizando de que foram enganadas, de que muita injustiça foi cometida em nome dessa guerra contra a maconha e que, na verdade, se elas precisam, ou se algum familiar, algum amigo precisa dessa substância para lidar com situações de vida ou morte, elas são capazes de romper as amarras desse difamação que a maconha sofreu por muitas décadas.”

O líder indigenista e ambientalista Ailton Krenak, que roubou a atenção do público no segundo dia do evento, lembrou que a cannabis foi introduzida no Brasil pelos povos africanos e, incorporada aos rituais de alguns povos indígenas há 300 anos. “A gente não pode naturalizar a ideia de que a cannabis integra o repertório de conhecimento dos povos originários daqui da América do Sul. Ela não é nativa daqui, ela veio para cá com os povos que vieram da África. Tem gente que acha que ela entrou pelo Caribe, pela América Central, tem outros historiadores que dizem que os povos que vieram do Benim, da África, levaram ela para o Maranhão e daí ela entrou na Amazônia.”

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Krenak destacou a importância das plantas medicinais no saber tradicional dos povos originários, muitas cantadas em rituais tradicionais e outras integrantes de mitos fundadores desses povos. “O uso medicinal e o uso ritualístico, ele foi integrado a outras práticas, assim como a jurema. A jurema é daqui, é nativa, os povos indígenas do Nordeste têm os rituais da jurema e assimilaram essa planta que veio da África como uma planta que é parente da jurema”.

Debate está avançando
A advogada Margarete Brito, fundadora e diretora da Apepi, comemorou o sucesso da terceira edição do evento. “Os palestrantes apresentaram muitos avanços nas pesquisas, esclarecimento médico e no uso da cannabis medicinal no país. Ouvindo os relatos dos participantes desta edição, vemos o quanto o debate avançou. Hoje as associações já estão conseguindo plantar e abrir espaço para pesquisa.”

Margarete destacou a importância de se amadurecer o debate em torno da cannabis medicinal, visando diminuir o preconceito e democratizar o acesso ao tratamento. Para a advogada, o preço pode baixar com a aprovação do Projeto de Lei (PL) 399/15, que regulamenta o plantio de Cannabis sativa para fins medicinais e a comercialização de medicamentos que contenham extratos, substratos ou partes da planta, mas que está há um ano parado. “Ainda é muito caro. Além de melhorar o acesso, você gera riqueza para o país. Porque hoje existem inúmeras pessoas que ainda usam o produto que vem lá de fora, pagando em dólar. Como o Sidarta diz, é igual você importar mandioca para fazer farinha.”

Mais pesquisas voltadas a cannabis
O médico sanitarista e assessor de relações institucionais da Fiocruz, Valcler Rangel, afirmou que a Fiocruz pretende implantar ações para induzir a pesquisa na área, com o objetivo de possibilitar o uso da cannabis medicinal como um recurso para a saúde pública. “A gente está formulando uma proposta de indução de pesquisas e estudos amplos nessa área, estudos interdisciplinares, pegando no campo biológico, dos estudos clínicos e também das ciências sociais. A ideia é induzir estudos voltados para essa questão do uso medicinal da cannabis, com a constituição de plataformas de análise e a criação de um grupo de trabalho permanente com o pessoal das universidades e da sociedade civil, que trabalhe uma agenda combinada das instituições para esse enfrentamento das dificuldades do uso da cannabis”.

Ativistas participaram em grande número
Representantes das associações Abrace da Paraíba, Curando Ivo de Goiás, Santa Cannabis de Santa Catarina, Instituto CuraPro:Acolhe Vidas de São Paulo, Maria Flor de Marília e da AbraRio do Rio de Janeiro fizeram questão de prestigiar o evento. “Além de muita informação e conhecimento, tivemos a oportunidade de trocar experiências com médicos, advogados, especialistas e ativistas de diversas associações do país. Foi muito gratificante poder participar de um evento tão importante como esse e poder conhecer pessoas do Brasil inteiro que estão também lutando pela causa em diferentes áreas”, comentou a presidente da AbraRio Marilene Esperança elogiando a organização do evento.

Fonte: Agência Brasil

Confira a cerimônia de abertura do evento divulgado no canal oficial da Apepi no Youtube:

 

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