Pesquisa mostra que cultivo doméstico de cannabis inspira cultivo de tomates, manjericão e outras hortaliças, desafiando o velho mito da “droga de entrada”
Um novo levantamento com mais de 1.300 cultivadores domésticos de cannabis nos Estados Unidos revelou um dado inusitado: dois em cada três (66%) disseram que começar a plantar maconha em casa os motivou a cultivar também tomates em seus quintais.
Os dados contrariam a ideia propagada por setores conservadores de que a cannabis seria uma “droga de entrada” para substâncias mais perigosas. Segundo a pesquisa, a erva parece, na verdade, ser um “cultivo de entrada” para a jardinagem caseira.
“Estamos dizendo isso há anos: uma vez que as pessoas experimentam a alegria de cultivar sua própria cannabis, elas não conseguem parar”, afirma Jessica Hanson, cofundadora da Homegrown Cannabis Co., empresa responsável pela pesquisa. “A cannabis não é uma droga de entrada, é uma planta de entrada. Quando você vê, seu quintal está cheio de tomates — e talvez até algumas abobrinhas.”
Além dos tomates, os principais cultivos que vieram depois da cannabis incluem manjericão, morangos, pimentas, pepinos e alface. A pesquisa também identificou um movimento geracional: enquanto apenas 29% dos baby boomers disseram ter cultivado cannabis antes de tomates, entre os millennials esse número sobe para 62%. O padrão se repete especialmente em estados onde a legalização já avançou, mas também aparece em locais onde o cultivo ainda precisa ser feito de forma discreta, devido à proibição vigente.
Segundo Hanson, cultivar cannabis ajuda a desenvolver habilidades como paciência, atenção aos detalhes e cuidado — competências que também se aplicam à horticultura em geral. “Além disso, elas combinam perfeitamente no jardim. Um para a salada, outro para a alma”, brinca.
Esse tipo de atividade também está ligado a benefícios para a saúde física e mental. Um estudo financiado pelo governo federal dos EUA revelou que adultos tendem a ser mais ativos fisicamente nos dias em que usam cannabis, refutando o estereótipo do “maconheiro preguiçoso”. Outro estudo publicado no Preventive Medicine Reports mostrou que usuários de maconha caminham mais do que não-usuários e têm hábitos de exercício físico similares — ou até superiores — aos de pessoas que não consomem.
Pesquisas recentes também vêm desmontando outros mitos: um estudo de 2022 não encontrou qualquer relação entre o uso habitual de cannabis e apatia ou desmotivação. Pelo contrário, consumidores frequentes relataram sentir mais prazer em atividades do dia a dia. E, ao contrário do álcool, a cannabis também não parece causar ressacas no dia seguinte.
À medida que a legalização avança em diferentes partes do mundo, essas descobertas ajudam a reescrever a narrativa sobre quem são os usuários de cannabis — e o que eles cultivam, além da planta.
