“Antiproibicionismo por uma questão de classe – Reparação por necessidade” foi o tema deste ano da 15ª Marcha da Maconha realizada no último sábado (17) em São Paulo. A concentração começou às 14h20 no vão livre do Museu de Artes de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, e a caminhada seguiu pela Avenida Paulista, desceu a Rua da Consolação e terminou como de costume na Praça da República, no centro da cidade. A Marcha reafirmou o posicionamento pelo fim da guerra às drogas e seu compromisso com os direitos humanos.
Com a participação de milhares de pessoas, a marcha contou com os famosos bandeirões e o tradicional “maconhaço”. Também participam movimentos sociais parceiros, como os Guarani Mbya, da Terra Indígena Jaraguá; residentes, ativistas e trabalhadores da redução de danos que atuam na Cracolândia, no centro de São Paulo; um grupo da Marcha das Favelas, do Rio de Janeiro; o bloco LGBTQIA+ e o bloco Feminista; e o bloco terapêutico, formado por pacientes e familiares que fazem uso medicinal da cannabis.
15 anos de história
Segundo um dos integrantes da Marcha da Maconha, Luiz Fernando Petty, o tema escolhido para a edição deste ano trouxe o conceito do fim da proibição das drogas e de todas as decorrências disso, o fim da guerra às drogas, o direito ao próprio corpo e o fim das prisões pelo tráfico dessas substâncias.
“E é pela reparação em um conceito antirracista, pensando nas pessoas que sofreram no meio dessa guerra e em como corrigir isso, nem que seja incluindo-os em um futuro mercado de legalização das drogas no Brasil. A partir do momento em que se legaliza as drogas, a gente vai ter todo um processo de anistia para quem foi preso vendendo. E essas pessoas vão sair da prisão e têm que ser levadas em consideração em um projeto de sociedade que as inclua”, afirmou Petty.
– ENCONTRE UM ESPECIALISTA E INICIE AGORA MESMO SEU TRATAMENTO COM CANNABIS
Durante a manifestação, 50 mil sementes de maconha foram distribuídas gratuitamente na concentração pelo Movimento Sem Sementes e a Marcha da Maconha SP, reforçando a desobediência civil como uma das principais características do ato.
Uma das participantes foi a presidente da Cultive – Associação de Cannabis e Saúde, responsável pelo bloco terapêutico. Cidinha é mãe da Clárian, portadora da Síndrome de Dravet, também conhecida como Epilepsia Mioclônica Grave da Infância (EMGI), doença progressiva, incapacitante e que não tem cura. Caracteriza-se por crises epilépticas que podem durar horas e atraso do desenvolvimento psicomotor e cognitivo. O óleo de cannabis, hoje produzido por ela e pelo marido, Fábio Carvalho, transformou a vida da filha, que começou a consumir o óleo aos 10 anos de idade e hoje tem 20 anos.
Cidinha contou que começou a se interessar pela cannabis ao ver que o óleo estava dando bons resultados no tratamento de um caso internacional igual ao da filha. Nesse momento, iniciou a luta para conseguir o produto e apenas em 2016 conseguiu permissão na Justiça para produzir. A necessidade a fez estudar o assunto e entender o que a cannabis poderia fazer por sua filha.
“A marcha foi o primeiro grupo que nos acolheu para que pudéssemos nos manifestar. Nós somos a primeira família. Nós começamos a participar da Marcha da Maconha em 2014, levamos toda a família para participar e para achar várias famílias. A partir de lá, realmente, eu vi que a marcha é um manifesto, porque ela abraça e acolhe todos os coletivos e acaba sendo um símbolo de luta por direitos humanos. A partir daí, nasceu o bloco terapêutico com várias mães participando, e hoje a ala está enorme”, disse Cidinha.
Fonte: Agência Brasil
LEIA TAMBÉM:
- Pesquisadores pretendem combinar psilocibina e cannabis em um único tratamento
- Relatório sugere anistia e regulamentação da cannabis
- Governo de Santa Catarina terá que fornecer canabidiol a menino autista
- Hotel de cânhamo será inaugurado neste mês na África do Sul