Marina Gentil *
A política de drogas adotada por muitos países, incluindo o Brasil, há décadas se estrutura em um modelo de proibição e repressão, que, longe de solucionar o problema do uso de entorpecentes, alimenta uma espiral de violência com impactos devastadores para a sociedade. Essa violência, que vai além da disputa entre facções ou do combate entre polícia e traficantes, se estende a diversas camadas, atingindo sobretudo as populações mais vulneráveis.
Criminalização e Exclusão Social
A guerra às drogas não combate substâncias, mas sim pessoas. É uma política que criminaliza corpos e territórios, recaindo desproporcionalmente sobre jovens negros e periféricos. Esses indivíduos, muitas vezes sem alternativas reais de inclusão social, acabam sendo tragados por redes criminosas que oferecem uma suposta “oportunidade” em um cenário de falta de perspectivas econômicas e educacionais.
A militarização das favelas e comunidades pobres transforma esses espaços em verdadeiros campos de batalha, onde a população civil é frequentemente tratada como “cúmplice” ou “suspeita”. A violência policial, amplificada pelo discurso de combate ao tráfico, gera mortes arbitrárias, desaparecimentos forçados e destruição de famílias, perpetuando um ciclo de dor e desamparo.
O Impacto no Estado e nas Instituições
A política de drogas também corrompe as instituições do Estado. Corrupção policial, envolvimento de agentes públicos com o tráfico e seletividade judicial são sintomas de um sistema que não combate a violência, mas a reproduz. Isso mina a confiança da população nas estruturas de segurança e justiça, criando um sentimento generalizado de impunidade e insegurança.
O Ciclo de Repressão e Mercado Negro
A repressão não reduz a oferta de drogas; pelo contrário, fomenta o fortalecimento de mercados negros altamente lucrativos. Cada operação policial bem-sucedida contra um grupo criminoso cria um vácuo que rapidamente é preenchido por outro, geralmente com ainda mais violência. Essa dinâmica perpetua o enfrentamento armado e o poderio bélico das facções.
Alternativas ao Paradigma da Repressão
O rompimento desse ciclo de violência exige uma reavaliação da política de drogas, com foco em redução de danos, descriminalização e regulamentação. Experiências internacionais demonstram que políticas baseadas em saúde pública, ao invés de repressão, são mais eficazes tanto para reduzir o consumo problemático quanto para enfraquecer o poder do tráfico.
Investir em educação, geração de empregos e projetos sociais nos territórios mais impactados pela guerra às drogas é uma estratégia que ataca as raízes da violência e oferece novas possibilidades a quem hoje se encontra à margem.
Conclusão
A violência gerada pela política de drogas é uma tragédia anunciada, perpetuada por escolhas políticas que priorizam a repressão em detrimento de soluções humanas e estruturais. Mudar esse cenário exige coragem política e um olhar sensível para aqueles que vivem, diariamente, sob o peso desse conflito. Enquanto não houver essa mudança, continuaremos a contabilizar corpos e a lamentar vidas que poderiam ter sido transformadas.
*Marina Gentil é advogada OAB/SC, pós graduanda em Cannabis Medicinal, diretora jurídica da Green Couple Assessoria e CEO da Clínica Sativa.