Uma nova revisão científica sugere que compostos menos conhecidos da maconha podem ter um papel importante no tratamento de distúrbios cerebrais e outras condições de saúde. Além dos já estudados THC e CBD, presentes na planta de cannabis, o relatório destaca a importância de fitocanabinoides menos explorados, como THCV, CBDV e CBG, que demonstram “diversas atividades farmacológicas” e oferecem promessas terapêuticas.
De acordo com a pesquisa, conduzida por cientistas do Centro de Pesquisa em Demência do Instituto Nathan Kline, em Nova York, esses compostos menores apresentam propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e neuromoduladoras. Essas características, segundo os autores, posicionam os fitocanabinoides como potenciais agentes no tratamento de doenças neurodegenerativas, como Parkinson, Alzheimer e Huntington, além de condições como epilepsia e dependência de substâncias.
“O potencial terapêutico da Cannabis sativa vai além do CBD amplamente estudado, abrangendo uma ampla gama de fitocanabinoides menos conhecidos que podem ajudar em diversos distúrbios neurológicos”, afirmam os pesquisadores.
Embora o Δ9-THC seja o canabinoide mais estudado pelos seus efeitos neuropsiquiátricos e neuroprotetores, os fitocanabinoides menores continuam pouco investigados. O estudo aponta que, com mais pesquisas, esses compostos poderiam abrir caminho para novas terapias baseadas em canabinoides, oferecendo uma abordagem inovadora na neuroproteção e no tratamento de doenças.
Avanços no tratamento do câncer
Além das descobertas sobre distúrbios cerebrais, outro estudo, publicado na revista BioFactors no verão deste ano, revelou que fitocanabinoides menores podem ter efeitos anticancerígenos, especialmente em casos de câncer no sangue, como o mieloma múltiplo. A pesquisa testou compostos como CBG, CBC, CBN e CBDV em modelos celulares e em camundongos, com resultados promissores.
Os autores relataram que esses compostos demonstraram um efeito citotóxico nas células cancerígenas, o que pode abrir novas frentes no tratamento contra o câncer. CBG e CBN, em particular, mostraram benefícios ao reduzir a invasão das células cancerosas nos ossos e diminuir a reabsorção óssea, uma complicação comum do mieloma múltiplo.
Terpenos e o “efeito entourage”
Outro aspecto investigado pela comunidade científica é o papel dos terpenos, compostos aromáticos da cannabis. Um estudo recente, também publicado no Preprints.org, indicou que, embora seja “plausível” que os terpenos modulam os efeitos psicoativos da maconha, ainda não há evidências conclusivas sobre essa interação. No entanto, muitos pesquisadores consideram promissora a teoria do “efeito entourage”, na qual a combinação de terpenos e fitocanabinoides poderia potencializar os efeitos terapêuticos da planta.
Segundo os especialistas, a complexa interação entre os compostos da cannabis pode resultar em benefícios que vão além das propriedades isoladas de cada canabinoide. Isso reforça a importância de estudar a planta como um todo para o desenvolvimento de medicamentos à base de cannabis.
Implicações para o futuro
Essas descobertas abrem novas possibilidades no uso da maconha medicinal, particularmente em tratamentos neuroprotetores e anticancerígenos. O estudo sugere que o caminho para tratamentos mais eficazes com base em canabinoides pode envolver a combinação de compostos menores, terpenos e outros componentes da planta, oferecendo novas esperanças para pacientes com distúrbios neurológicos e tipos de câncer agressivos.
Esses avanços podem revolucionar a forma como a ciência encara a cannabis, superando as abordagens tradicionais focadas apenas em THC e CBD, e ampliando o escopo de pesquisa para outros compostos promissores da planta.