Pesquisa financiada pelo governo dos EUA aponta que abertura de dispensários médicos e recreativos está ligada à queda nas prescrições de analgésicos potentes
A legalização da cannabis para fins medicinais ou recreativos está associada a uma redução significativa no uso de opioides entre pacientes com diagnóstico de câncer, segundo um novo estudo financiado pelo governo dos Estados Unidos e publicado pela American Medical Association (AMA).
Os pesquisadores analisaram dados de planos de saúde de mais de 3 milhões de pacientes, entre 2007 e 2020, e identificaram “reduções expressivas” na taxa de prescrições de opioides, na quantidade diária média e no número de receitas por paciente após a abertura de dispensários de cannabis medicinal e recreativa.
O estudo, publicado no JAMA Health Forum e financiado pelo Instituto Nacional de Abuso de Drogas (NIDA), conclui que a cannabis “pode ser um substituto eficaz aos opioides no manejo da dor relacionada ao câncer”.
De acordo com os pesquisadores das universidades da Geórgia, Indiana e Chicago, a abertura de dispensários médicos resultou em uma queda de 41 prescrições de opioides a cada 10 mil pacientes com câncer, redução média de 2,5 dias no fornecimento de opioides e uma leve diminuição no número total de prescrições por paciente. Dispensários recreativos também mostraram impacto positivo, embora menor.
Os autores destacam que a redução foi mais intensa após a abertura efetiva dos estabelecimentos do que no momento em que as leis foram aprovadas, o que indica que a disponibilidade prática da cannabis tem papel central na substituição dos opioides.
A análise também mostrou que o efeito foi semelhante entre diferentes faixas etárias, gêneros e grupos étnicos, sugerindo que a ampliação do acesso à cannabis pode beneficiar de forma equitativa pacientes oncológicos de perfis variados.
Os pesquisadores reforçam que os resultados estão em linha com evidências anteriores de que a cannabis pode ser usada com segurança para aliviar dores crônicas e reduzir o consumo de medicamentos mais agressivos e com alto potencial de dependência.
Estudos recentes corroboram essa tendência: pesquisas nos Estados Unidos, Austrália e Reino Unido apontam que a legalização da cannabis medicinal está associada a uma queda nas prescrições de opioides e nas mortes por overdose. Uma delas, publicada em 2024, mostrou que estados que legalizaram o uso adulto de cannabis tiveram redução média de 3,5 mortes por 100 mil habitantes relacionadas a opioides.
Os autores do novo estudo recomendam que futuras pesquisas aprofundem a análise sobre o impacto individual e de longo prazo da cannabis no tratamento da dor em pacientes com câncer, reforçando o potencial da planta como ferramenta complementar no enfrentamento da crise de opioides.
