Um novo estudo publicado no British Journal of Psychiatry aponta que o MDMA pode representar uma alternativa promissora para o tratamento do transtorno depressivo maior (TDM). A pesquisa, que envolveu 12 participantes diagnosticados com episódios únicos ou recorrentes de depressão grave, mostrou reduções significativas nos sintomas após duas sessões de terapia assistida pela substância, aplicadas com intervalo de um mês.
Os resultados indicam melhora consistente tanto na escala Montgomery–Åsberg de avaliação de depressão quanto na Escala de Incapacidade de Sheehan, que mede o impacto funcional da doença. O estudo também registrou redução estatisticamente relevante de sintomas de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), ainda que essa não fosse a meta principal.
O protocolo envolveu triagem rigorosa, exclusão de pacientes com condições como psicoses, mania ou transtornos alimentares com purgação, e acompanhamento com psicoterapia integrada. As doses variaram de 80 mg na primeira sessão a até 120 mg na segunda, com possibilidade de suplementação após uma hora e meia.
Nenhum efeito adverso grave foi registrado. Para os autores, a segurança observada sob supervisão médica indica que, com triagem e acompanhamento adequados, o MDMA pode ser administrado com segurança a pacientes com TDM. Ainda assim, por se tratar de um estudo pequeno e não controlado, os pesquisadores ressaltam que são necessários ensaios clínicos randomizados para confirmar a eficácia.
O avanço acontece em meio a crescente interesse internacional no uso de substâncias psicodélicas no tratamento de condições de saúde mental. Nos Estados Unidos, o Departamento de Assuntos de Veteranos (VA) tem investido em pesquisas com MDMA, psilocibina e ayahuasca, especialmente para tratar veteranos com TEPT, lesões cerebrais traumáticas e depressão resistente. Propostas legislativas no Congresso buscam ampliar financiamento e criar centros especializados para terapias psicodélicas em unidades do VA.
Apesar de iniciativas encorajadoras, barreiras regulatórias permanecem. Recentemente, a FDA rejeitou uma solicitação para aprovar a terapia assistida por MDMA, contrariando especialistas, parlamentares e organizações de veteranos que defendem a liberação. Ainda assim, autoridades de saúde, como o secretário do VA, afirmam que a terapia apresenta resultados “fenomenais” e pode se tornar uma ferramenta crucial para quem não responde a tratamentos convencionais.
O estudo reforça o que já vem sendo documentado por outras pesquisas: quando aplicadas com responsabilidade e suporte terapêutico, substâncias historicamente criminalizadas podem oferecer soluções inovadoras para problemas complexos de saúde mental — um campo em que a urgência de novas abordagens é cada vez mais evidente.
