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Estudo brasileiro investiga uso de canabidiol em crianças com autismo

by Redação

Pesquisadores brasileiros publicam estudo pioneiro sobre o uso de canabidiol em crianças com autismo

Um grupo de pesquisadores do Laboratório de Neurociência Comportamental (LabNeC) da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), em parceria com cientistas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e de instituições da Itália e do Canadá, publicou um estudo pioneiro sobre o uso de óleo rico em canabidiol (CBD) em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

O artigo, intitulado “Retrospective Observations from a Pilot Study on the Feasibility and Safety of Medication Reduction or Withdrawal in Children with Autism Spectrum Disorder Taking Cannabidiol-Rich Oil”, foi publicado na revista científica internacional Clinical Neuropsychopharmacology and Addiction (DOI: 10.53941/cna.2025.100007).

O estudo analisou a viabilidade e a segurança do uso de um óleo de CBD com proporção de 14,5:1 em relação ao THC em 30 crianças com autismo, acompanhadas ao longo de 24 semanas. Parte dos participantes realizou, sob supervisão médica, a redução ou retirada de medicamentos psicotrópicos, como antipsicóticos e anticonvulsivantes, durante o uso do óleo.

Os resultados foram encorajadores: 90% das crianças completaram o estudo, e em muitos casos foi possível reduzir ou suspender medicamentos com segurança. Os efeitos adversos relatados foram leves e transitórios — como aumento de apetite e leve agitação — e a maioria das famílias relatou melhora na comunicação, na sociabilidade e nos comportamentos repetitivos.

Segundo o pesquisador e coautor, Prof. Dr. Rafael Mariano de Bitencourt, coordenador do LabNeC/UNISUL, “este trabalho representa um passo importante na construção de evidências sobre o potencial terapêutico do canabidiol em crianças com autismo. Ainda que os resultados sejam preliminares, eles reforçam a importância de investigações cuidadosas e supervisionadas, com foco na segurança e na qualidade de vida das famílias envolvidas.”

O estudo, que tem como primeiro autor o médico Alysson Madruga de Liz, foi desenvolvido em colaboração entre pesquisadores do Brasil, da Itália e do Canadá, reforçando seu caráter internacional e multidisciplinar. O óleo utilizado na pesquisa foi fornecido pela Associação Brasileira para Acesso à Cannabis Terapêutica (ABRAFLOR), refletindo práticas reais de acesso à Cannabis medicinal no país. Como todo estudo piloto e retrospectivo, os resultados devem ser interpretados com cautela: o desenho aberto, a ausência de grupo controle e o número reduzido de participantes limitam a generalização dos achados e impedem conclusões causais definitivas. Ainda assim, os dados oferecem sinais relevantes que justificam a realização de ensaios clínicos mais robustos e controlados no futuro.

Para Bitencourt, o trabalho também evidencia o papel das associações civis no avanço da ciência e no acesso à Cannabis medicinal no Brasil: “A ciência precisa olhar para o que já acontece na vida real. Muitas famílias vêm utilizando produtos à base de canabidiol de forma empírica, e cabe à pesquisa investigar, de maneira ética e responsável, os potenciais benefícios e riscos dessas práticas.”

O artigo completo está disponível em acesso aberto no site da revista: https://doi.org/10.53941/cna.2025.10000

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