Que o mercado da cannabis surgiu para ficar, já não é mais uma grande novidade para quem lê o noticiário. Isso porque existe algum grau de regulamentação da maconha em grande parte do mundo – em alguns países, como o Canadá e Uruguai, a legalização existe para todos os tipos de uso (adulto, industrial e medicinal). Ao falar dessa indústria, no entanto, não se pode esquecer do cânhamo, que já foi um importante insumo em países como a China, Romênia e Rússia, além do próprio Brasil, e, que, quando legalizado, terá um grande impacto no mercado da saúde e do bem-estar.
Mas afinal, o que é o cânhamo?
O cânhamo, uma subespécie da Cannabis sativa L., planta que também dá origem à cannabis ou maconha, tem como principal diferença o teor de THC presente. O limite mais conhecido desse fitocanabinoide é de 0,3%, mas pode variar, geralmente, entre 0,2% e 2% de acordo com a regulamentação proposta pelo país em questão.
Outro importante diferencial entre o cânhamo e a cannabis é que o CBD compõe cerca de 40-60% da planta de cânhamo , e, além destes, há outros fitocanabinoides e terpenos. Além dos fitocanabinoides característicos da cannabis, as sementes de cânhamo contêm um rico perfil de nutrientes e isso equivale ao seu alto valor nutricional.
Essa variedade da planta é cultivada para a produção de uma ampla gama de produtos, como suplementos nutricionais, alimentos e bebidas, artigos de higiene pessoal, tecidos, papel, materiais de construção e outros bens manufaturados e industriais. Ou seja, o cânhamo é extremamente versátil e pode ser cultivado como fonte renovável de matérias-primas que auxiliam na fabricação de milhares de produtos, porque cada uma de suas partes (fibras, sementes, flores, raízes e mais) pode ser usada para finalidades diferentes.
Fitocanabinoides e suas propriedades terapêuticas e medicinais
Os fitocanabinoides são canabinoides especificamente derivados das plantas da cannabis e do cânhamo, em maior parte concentrados nos tricomas glandulares (excrescências pilosas) das cabeças floridas das estruturas biológicas femininas.
Os fitocanabinóides mais abundantes encontrados na planta de cannabis são o ∆9-tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD), sendo o primeiro responsável pelos efeitos intoxicantes da cannabis fumada e comercializada e não recomendada para adolescentes e pessoas com transtornos psicóticos ou questões com ansiedade. Enquanto isso, o CBD não é psicotrópico e não tem contra-indicações de uso, com exceção para gestantes. Além do THC e CBD, as plantas da espécie Cannabis sativa L contam com diversos outros fitocanabinoides, como o THCA, CBDA, CBG, CBGA, CBC, CBCA, CBCV, CBCVA, CBDV, CBN e muito mais.
A falta de estudos mais aprofundados sobre esses compostos mais desconhecidos torna difícil especificar qual é a exata propriedade medicinal que oferecem individualmente, mas, na tabela deste texto, é possível entender um pouco mais sobre eles.
Como o cânhamo pode impactar no mercado de saúde
Conforme abordado neste texto, o cânhamo é uma planta que pode ser usada de diferentes maneiras, especialmente por ter um cultivo considerado fácil, além de não precisar ser aproveitado apenas por grandes empresas farmacêuticas, mas, também, por pequenos e médios produtores.
A humanidade percebeu esses benefícios há milhares de anos e foi apenas durante os últimos 100 anos que seu cultivo foi proibido. A pesquisa moderna, no entanto, vem atestando ainda mais seus princípios ativos, seu perfil nutricional e as inúmeras vantagens à saúde que oferece, o que colocou essa planta de volta no mercado.
Alguns desses benefícios e que teriam um grande impacto nas indústrias são:
– No Brasil, as doenças cardiovasculares representam a principal causa de mortes, sendo mais de 1.100 por dia. O óleo de cânhamo proveniente das sementes pode ser um importante aliado para o tratamento de doenças do coração, pois contém altos níveis de ômega-3 e ômega-5 e, assim, combate a inflamação, reduz a pressão arterial e previne a formação de coágulos sanguíneos;
– A artrite reumatoide (AR) é uma doença crônica que afeta cerca de 1% da população adulta do mundo e seu tratamento gera um alto custo para os pacientes acometidos. O uso de produtos à base de cânhamo, no entanto, pode servir de alternativa para quem sofre com artrite já que seu óleo é uma rica fonte de ácido gama-linoleico, que tem propriedades terapêuticas anti-inflamatórias;
– É impossível definir o número de pacientes que sofrem com alguma dificuldade digestiva, mas toda a população poderia se beneficiar de três colheres de sopa de semente cânhamo, que contêm aproximadamente 1,2 g de fibra (fibras insolúveis e solúveis), as quais são excelentes para o nosso sistema digestivo;
– No Brasil, muitaspessoas sofrem com alguma doença aguda de pele, são mais de 5 milhões de pessoas com psoríase, por exemplo. As sementes de cânhamo são uma rica fonte de fibra vegetal, ácidos graxos ômega-3, vitaminas A e E, e minerais como cálcio, ferro, zinco, magnésio e fósforo. Esses compostos ajudam a manter a pele hidratada, macia, flexível e livre de doenças, como a dermatite e acne;
– Essa planta tão versátil também pode ajudar os mais de 77 milhões de brasileiros que têm algum distúrbio de sono (Pneumosono), já que contém grande quantidade de magnésio e CBD, que naturalmente ajudam a relaxar o corpo.
Óleo de CBD x óleo da semente do cânhamo
Mesmo em mercados regulados existe uma grande confusão a respeito das principais diferenças entre o óleo de CBD e o óleo da semente do cânhamo, mas é essencial informar que esses produtos não são provenientes da mesma parte da planta e não contém as mesmas propriedades medicinais. O óleo de CBD é feito a partir das folhas e principalmente das flores da cannabis e do cânhamo, contém uma alta concentração de CBD e outros fitocanabinóides, e pode ser usado para auxiliar no tratamento de diferentes condições médicas. As indústrias que podem se beneficiar desse produto são: alimentícia, bebidas, suplementos, produtos para animais, farmacêutica etc.
Já o óleo de semente do cânhamo é feito, como já diz o nome, a partir das sementes da planta do cânhamo que normalmente são prensadas a frio e, desse processo, se extrai um óleo que não contém quantidades significativas de CBD e outros fitocanabinoides, mas é rico em nutrientes, ácidos graxos e compostos bioativos úteis que também podem trazer benefícios à saúde. Essa matéria-prima pode impactar os seguintes setores: suplementos, alimentos, produtos industriais, cosméticos etc.
Expectativa para a legalização do cânhamo no Brasil
Abordar a legalização no Brasil, seja da cannabis ou do cânhamo, é sempre um desafio, porque o assunto é permeado por uma série de preconceitos e barreiras burocráticas e legais. Mas afinal, o cânhamo é legal no Brasil?
Cultivo: o cultivo de cânhamo não é permitido no país para nenhuma finalidade comercial e, mesmo para pesquisas, esse acesso se mostrou bastante complicado, sendo que, até o momento, apenas uma empresa conseguiu. Atualmente, existe mais de um projeto de lei em tramitação para regular o cultivo, porém o que está mais avançado é o PL 399/2015, em que o plantio seria permitido para fins industriais e as plantas poderiam ter até 0,3% de THC.
Importação: é possível fazer a importação de insumos feitos a partir do cânhamo, desde que não tenham quantidade significativa de fitocanabinóides, ou seja, esse processo pode ser feito para tecidos feitos com a fibra do cânhamo e possivelmente outros insumos, mas, devido ao limbo regulatório, é difícil ter certeza do que é permitido ou não.
Venda: a venda de produtos à base de cânhamo é possível em alguns casos no Brasil; existem produtos medicinais aprovados para importação via Anvisa e existem marcas que, ao conseguirem a autorização para importação do insumo final, vendem produtos como camisetas e calças jeans feitas com cânhamo.
A partir desse conteúdo, é possível ter uma visão mais esclarecedora sobre os potenciais dessa planta com tanto potencial e que, com certeza, irá conquistar os brasileiros quando a oferta for maior e mais acessível.
Ainda assim, o assunto do cânhamo é muito amplo para ser totalmente coberto apenas por essa publicação. Por isso, em março de 2022, a Kaya Mind lançou o seu relatório “Cânhamo no Brasil”, um documento digital gratuito com mais de 100 páginas em que se pode conferir todos os usos do cânhamo, potencial de mercado que pode ter no Brasil e muito mais. Você pode ter acesso a esse material clicando aqui .
REFERÊNCIAS:
https://www.scielo.br/j/csc/a/n78hCWTkgvDpZtNJwLmzvvp/?lang=pt&format=pdf
https://www.kilyos.com.br/doencas-cardiovasculares-x-tendencias-do-mercado/
https://hempfoundation.net/top-12-medical-medicinal-usage-of-hemp/
https://www.webmd.com/vitamins/ai/ingredientmono-1605/hemp
https://itshemp.in/blog/what-is-hemp/
*Escrito por Maria Eugenia Riscala e Thiago Cardoso.
Maria Eugenia é a CEO da Kaya Mind – atua diretamente no atendimento e prospecção de clientes e parceiros, além de ser administradora financeira da operação. Já Thiago Cardoso é o CIO na empresa, chefe de inteligência de mercado e dados, trabalhando com o time para entregar os melhores projetos, além de ser o Data Protection Officer da companhia.
A Kaya Mind transforma informações e dados em insights e análises para o setor da cannabis, cânhamo e seus periféricos a partir de metodologias quantitativas e qualitativas. Eles sabem do potencial desse mercado, assim como o impacto que a regulamentação pode ter na vida das pessoas, desde que seja feita de maneira responsável. Querem auxiliar profissionais, negócios, empresas e governos a compreenderem um mercado ainda sem respostas.