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Conhecimento atual do uso terapêutico de canabidiol em equinos

by contato

Pouco se sabe sobre o uso dos produtos derivados de canabis em equinos na atualidade, entretanto seu uso já ocorreu por muitos anos no passado. Escritores gregos relatam o uso de pomadas com cannabis associada para o tratamento de feridas, folhas secas para sangramento nasal e sementes contra vermes chatos.  Existem registros ainda do uso da planta em várias medicações para tratamento de cólica, espasmos no cólon e outras enfermidades, com algumas garrafas dessas misturas medicinais veterinárias preservadas como relíquia histórica. Em 1607, o autor Edward Topsell relatou a mistura de sementes de cannabis a ração para aumentar ganho de peso rápido em cavalos. 

Em 1800, era comum para os veterinários prescrever medicações para cólica com altas doses de canabis, e o departamento de guerra americano não hesitava em recomendar seu uso. Em 1915 o “Manual dor Farriers, Horseshoers, Saddlers and Waggoners” recomendava dar aos animais com cólica “uma colher de chá de Cannabis Americana liquida misturada com uma colher de sopa de azeite de oliva”. As prescrições ocorriam de forma empírica e assim como ocorreu em outras situações, com a criminalização da planta seu uso terapêutico se extinguiu no meio equestre.

Com a liberação do uso em medicina veterinária do CBD em alguns países, nos últimos dois anos começaram a surgir os primeiros resultados de pesquisas cientificas sobre a localização de receptores de canabidiol nos equinos, farmacocinética e potencial terapêutico, e embora muito ainda precise ser feito nesse campo para elucidar a aplicabilidade do uso nos cavalos com segurança, algumas conclusões importantes foram descritas que abrem campo para novos estudos. 

Foram observadas a presença de receptores relacionados e canabinóides nos neurônios sensoriais da raiz dos gânglios dorsais, e também no íleo dos equinos, além de vários tipos celulares (células epiteliais, células imunes, neurônios gliais e células musculares) que mostraram uma imunorreatividade para os receptores estudados, demonstrando a importância do sistema endocanabinoide na homeostasia intestinal. Estes trabalhos representam uma importante base anatômica para o desenvolvimento de novas pesquisas pré clínicas e clínicas com o objetivo de esclarecer quanto a possibilidade do uso terapêutico de agonistas canabinóides não psicotrópicos no tratamento contra estímulos dolorosos, dor visceral, processos inflamatórios e alterações de motilidade nos cavalos. Mais pesquisas com relação a essa distribuição dos receptores durante processos inflamatórios do sistema gastrointestinal são necessárias para o desenvolvimento de protocolos com o CBD.

Embora já exista um resultado in vitro demonstrando a capacidade de diminuição de citocinas inflamatórias pelo uso do CBD, abrindo fronteiras para a experimentação in vivo, o uso nas mesmas doses utilizadas em trabalhos com cães não demonstrou efeito terapêutico com relação a inflamação nos equinos. Porém, seu uso foi bem tolerado e sem efeitos colaterais indesejados. A absorção oral, a exemplo de outras espécies, é baixa, entretanto sua meia vida de eliminação é mais longa, com a produção de metabólitos primários semelhante a encontrada em humanos e cães.

Os canabinoides pertencem a um grupo de moléculas conhecidas por suas propriedades psicoativas, os receptores de CB1 e CB2 são os principais receptores encontrados nos animais, uma vez ativados ambos têm uma ampla ação em respostas fisiológicas como por exemplo na modulação da nociocepção (sensação de dor), e recentemente tem se proposto o uso dos receptores CB2 para o tratamento da dor sem ter o efeito psicoativo indesejado. Por este motivo pacientes equinos com doenças degenerativas como osteoartrites podem vir a se beneficiar dessa administração, através da diminuição dos sintomas comuns de dor, que por motivos individuais ou efeitos colaterais das medicações normalmente utilizadas não pode ser resolvida de outra forma.

Atualmente vem aumentando o interesse no uso do CBD e outros produtos derivados de cannabis para cavalos, como por exemplo no tratamento de artrites e comportamentos estereotipados negativos. Entretanto, a Federação Equestre Internacional (FEI), e o corpo governamental internacional para esportes equestres declarou que todos as formas de canabidiol naturais e sintéticos são consideradas substâncias banidas e constam da lista de substâncias proibidas para equinos. 

Estamos ainda em um momento de encontrar as doses terapêuticas mais adequadas e garantir que não ocorram efeitos colaterais, entretanto o potencial para seu uso existe e precisa ser corretamente desenvolvido para a promoção do bem estar nos cavalos, com o uso de mais uma ferramenta terapêutica com os produtos à base de CBD no tratamento de dores crônicas e possivelmente também em afecções do trato gastrointestinal.

*Luciana Azevedo Matias Silvano é veterinária (CRMV-SP 13529)

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