Um recente estudo do Datafolha revelou que a sociedade brasileira vê com bons olhos as vantagens terapêuticas da cannabis medicinal. De acordo com a pesquisa, 76% são a favor, e 22% contra. Entretanto, apenas 1% da população amostrada afirma estar usando no momento algum medicamento à base de cannabis e 2% já o fizeram. Ou seja, 97% nunca recorreram a preparados com canabidiol (CBD), tetra-hidrocanabinol (THC) e outros componentes da planta, que vêm sendo receitados para o tratamento de diversas enfermidades que provocam dores crônicas, doenças neurológicas, artrites e até alguns tipos de câncer.
Apesar disso, é alto o grau de informação relatado a respeito da maconha medicinal. Um total de 85% declarou ter certo conhecimento sobre o assunto, com 32% dizendo estar bem informados, 42% mais ou menos e 11% mal informados. Outros 13% afirmaram desconhecer o tema completamente, e 2% preferiram não opinar. O Datafolha entrevistou 2.016 maiores de 16 anos, nos dias 12 e 13 de setembro, em 139 municípios de todo o Brasil. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Ainda segundo o estudo, 2 de 3 brasileiros (67%) defendem autorizar o plantio de cannabis para produzir remédios no Brasil. O uso medicinal da cannabis vem crescendo diariamente, mas, como o cultivo para obter matéria-prima de uso farmacológico é proibido no país, é necessário recorrer à importação, através de empresas especializadas ou por meio individual.
Em 2015, uma resolução colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a RDC 17/2015, liberou a importação de medicamentos à base de canabidiol em caráter excepcional, a partir de prescrição médica. De acordo com dados da Anvisa, já foram emitidas mais de 235 mil autorizações para importação de produtos medicinais derivados da cannabis.
Somente no primeiro semestre de 2023, foram mais de 80 mil. Esses são pedidos direcionados para o tratamento de diversas enfermidades, como, por exemplo, Alzheimer, Parkinson, depressão, autismo e epilepsia.
As farmácias de varejo no Brasil oferecem uma série de produtos à base de cannabis, com alto custo e com uma efetividade relativa. Isso porque a prescrição para os tratamentos das doenças com cannabis medicinal precisa ser mais individualizada.
Nesse contexto científico, técnico, qualitativo e de efetividade do fármaco é que se destacam e se inserem as farmácias de manipulação. Diversos pareceres técnicos sobre o uso da cannabis medicinal no Brasil corroboram a tese de que a individualização da medicação é crucial para o sucesso terapêutico e adesão do paciente ao tratamento.
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Os profissionais das farmácias de manipulação estão preparados para atuar nesse segmento. Observa-se, com a vivência dos últimos anos, por exemplo, que muitos pacientes não se adaptam apenas com o CBD (Canabidiol) isolado, e precisam ser tratados com doses de THC (Tetrahidrocanabidiol), ativo que responde pela sensação psicoativa da planta. Juntos, os ativos presentes na cannabis produzem o chamado efeito comitiva, ou seja, atuam como uma equipe, de forma a entregar o resultado de melhora no quadro clínico dos pacientes.
Importante destacar também que o efeito está nas várias combinações dos canabinoides da planta, como por exemplo, nos dois mais conhecidos, o tetra-tetraidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD) que separados, mostram uma proporção de 50% de seus efeitos máximos, mas juntos, são 10 vezes mais potentes, segundo um estudo fitofarmacêutico. Nesse cenário, diferentes pacientes respondem a doses de CBD/THC variadas, de acordo com as particularidades de cada organismo humano.
Assim, na maioria dos casos os médicos devem realizar o chamado “ajuste de dosagem”, algo especialmente importante no tratamento com cannabis, a depender de cada caso e correspondente tratamento para que a cannabis tenha o efeito e a resposta esperada.
Portanto, as farmácias de manipulação se tornam ainda mais relevantes, pois possuem a capacidade técnica para manipular qualquer dose prescrita pelo médico e, assim, produzir o medicamento adequado em tempo muito curto, auxiliando imensamente o médico prescritor na jornada de definir a dose ideal para cada indivíduo.
*Danielle Gitti é Diretora Presidente da Farmacann – Associação para Promoção da Cannabis Medicinal Manipulada/Magistral