O parlamento do Cazaquistão aprovou em abril a legalização do cultivo de cânhamo industrial, marcando um novo capítulo na política agrícola e econômica do país. A medida, validada pela câmara baixa (Mazhilis), integra uma reforma legislativa mais ampla para eliminar regulações obsoletas e promover práticas sustentáveis.
Com a nova legislação, o país da Ásia Central passa a integrar a lista de nações que apostam no cânhamo como alternativa estratégica para impulsionar indústrias ecológicas. O cânhamo industrial tem aplicações em diversos setores, como têxteis, papel, construção civil, bioplásticos e até isolantes térmicos — todos com apelo crescente no mercado global sustentável.
Segundo o vice-ministro dos Assuntos Internos, Sanzhar Adilov, quatro licenças já foram emitidas para cultivo e processamento da planta, estritamente para fins industriais. Ele também reforçou o compromisso do governo em assegurar uma regulamentação rígida. “O cânhamo cultivado legalmente tem baixo teor de THC, entre 0,1% e 0,3%, o que o torna impróprio para uso recreativo e sem valor no tráfico de drogas”, explicou, em resposta às preocupações levantadas por legisladores.
A decisão não surge do zero. Há mais de uma década, o país já discutia a possibilidade de cultivar cânhamo para reduzir a dependência de importações — especialmente de papel. À época, o Cazaquistão gastava cerca de 100 milhões de dólares por ano com papel de escritório importado. A proposta inicial, apoiada pela ex-vice-primeira-ministra Dariga Nazarbayeva, acabou arquivada por falta de respaldo institucional.
Agora, o cenário é diferente. Com apoio do governo e fiscalização por parte de agências antidrogas, o projeto tem infraestrutura legal e supervisão ativa. Uma fazenda na região de Kostanay já deu início ao plantio e processamento do cânhamo, servindo como piloto para futuras expansões.
O cânhamo é reconhecido por sua versatilidade ecológica: cresce rápido, exige pouca água, dispensa agrotóxicos e pode ser usado na produção de hempcrete (concreto de cânhamo), alternativa de construção de baixo impacto ambiental. Além disso, a fibra de cânhamo oferece alto rendimento e durabilidade para a indústria têxtil.
A legalização também representa uma aposta na diversificação econômica e na atração de investidores nacionais e estrangeiros interessados na chamada economia verde. Com demanda crescente por matérias-primas renováveis, o Cazaquistão se posiciona como potencial líder regional no fornecimento de insumos sustentáveis.
A iniciativa reflete uma tendência global de reconexão entre agricultura e inovação ecológica, e lança luz sobre como países com forte tradição agrícola podem reinventar seus modelos de produção rumo a um futuro menos dependente de recursos não renováveis.