Composição do medicamento exige menos dosagem e tem proporcionado melhora significativa em pacientes com dores crônicas, como fibromialgia, endometriose e lesões traumáticas, entre outras
Com o avanço da medicina canabinoide e a crescente procura por terapias alternativas no Brasil, os medicamentos à base de cannabis vêm ganhando mais espaço no tratamento de diversas condições clínicas, incluindo a dor crônica.
Diferentemente de medicamentos com canabidiol (CBD) isolado, os extratos full spectrum mantêm a presença de outros compostos naturais da planta, como terpenos e o tetrahidrocanabinol (THC), em concentrações controladas (até 0,2%, conforme permitido pela Anvisa). Essa combinação potencializa os efeitos terapêuticos por meio do chamado “efeito entourage”, uma sinergia entre os compostos.
O medicamento atua através de receptores do sistema endocanabinoide, localizados principalmente no sistema nervoso central. Esse sistema regula funções essenciais como dor, humor, apetite, resposta inflamatória e imunidade. Quando ativado de forma equilibrada, pode ajudar o corpo a corrigir diversos desequilíbrios fisiológicos.
Estudos indicam que os medicamentos à base de cannabis full spectrum são bem tolerados e, muitas vezes, exigem doses menores do que as formulações com CBD isolado para alcançar os mesmos efeitos terapêuticos. Segundo o ortopedista Frederico Barra, doutor em Ciências da Saúde e professor adjunto na Universidade Federal de Goiás (UFG), essa diferença se deve à ação conjunta dos compostos da planta, conhecida como efeito entourage, que potencializa os resultados clínicos.
“Para atingir o mesmo efeito, as doses do medicamento full spectrum podem ser até quatro vezes menores do que as de um produto com CBD isolado”, afirma o especialista. “Com isso, também observamos uma redução nos efeitos colaterais, como hipotensão postural, náuseas, inapetência e insônia.”
O médico explica que o canabidiol não é indicado para o tratamento de dores agudas, mas tem se mostrado um aliado importante no manejo de dores crônicas, como as causadas por doenças musculoesqueléticas e síndromes de dor persistente. O tratamento, no entanto, deve ser feito sob acompanhamento médico regular.
Quando há presença de THC na formulação, como nos extratos full spectrum, é necessário um cuidado ainda maior com o ajuste da dose. O protocolo prevê a realização de exames clínicos antes do início do uso e um monitoramento semanal durante o período de ajuste.
“O início do tratamento deve ser sempre com a menor dose possível e o aumento é feito de forma gradual”, explica. Segundo ele, a dose ideal pode proporcionar até 80% de melhora nos sintomas. “Após esse marco, em muitos casos, é possível reduzir ou até suspender outros medicamentos em um período de cerca de três meses.”
De olho nessa tendência ao uso medicinal da cannabis no país, a União Química lançou recentemente mais um medicamento para o setor no país que garante a rastreabilidade, da matéria-prima à entrega final. O processo de extração elimina o sabor e o odor característicos da planta e esse diferencial pode ajudar na adesão ao tratamento, especialmente entre pacientes mais sensíveis.
