Presidente aposta no discurso pró-cannabis em meio a debate sobre reclassificação da planta e pressões proibicionistas no Congresso
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou no domingo (28) um vídeo em suas redes sociais defendendo os benefícios da cannabis para a saúde, especialmente no cuidado com pessoas idosas. A peça sugere que a inclusão do canabidiol (CBD) no Medicare — programa público de saúde voltado a idosos — seria “a iniciativa de saúde mais importante do século”.
O vídeo, produzido pela organização Commonwealth Project, circula em um momento em que o país aguarda a decisão de Trump sobre a proposta de reclassificação da maconha no sistema de drogas norte-americano. A medida, iniciada ainda na gestão Biden, pode tirar a planta da lista mais restritiva de substâncias, abrindo caminho para pesquisas científicas e uso médico mais amplo.
Embora a gravação não traga um posicionamento oficial do ex-presidente, sua divulgação chama atenção em meio a uma disputa no Congresso: enquanto setores conservadores pressionam para endurecer as regras sobre o cânhamo — inclusive cogitando banir produtos que contenham traços mínimos de THC —, outros parlamentares, especialistas e movimentos sociais alertam que tal postura praticamente extinguiria o mercado de CBD nos EUA.
Na peça de quase três minutos, o narrador explica o funcionamento do sistema endocanabinoide, descoberto nos anos 1990, e defende que o CBD derivado do cânhamo pode restaurar seu equilíbrio, auxiliando no tratamento de dores crônicas, inflamações, distúrbios do sono e declínio cognitivo. “É hora de educar os médicos sobre o sistema endocanabinoide, garantir cobertura do Medicare para o CBD e dar aos milhões de idosos o apoio que merecem”, diz o vídeo.
Um trecho também menciona reportagem da Fox News que estima uma economia anual de 64 bilhões de dólares caso a cannabis seja plenamente integrada ao sistema de saúde norte-americano.
A publicação de Trump reforça sua associação à Lei Agrícola de 2018, sancionada durante seu mandato, que legalizou o cânhamo com até 0,3% de THC. A legislação foi um marco para a expansão do mercado de derivados da planta, mas ainda encontra resistências políticas. O líder republicano Mitch McConnell, por exemplo, tenta impor restrições que podem inviabilizar parte do setor.
Apesar da hesitação pública de Trump, pesquisas recentes mostram que a maioria dos norte-americanos apoia a legalização federal da cannabis e não considera a planta perigosa. Levantamento da Coalition for Cannabis Policy, Education, and Regulation apontou que 70% dos eleitores querem o fim da proibição nacional, e quase metade disse que teria uma visão mais favorável da administração Trump caso ele avance na pauta.
Para especialistas, a sinalização do presidente ao publicar o vídeo pode indicar abertura ao diálogo, ainda que não garanta uma posição definitiva sobre a reclassificação. Enquanto grupos proibicionistas insistem em manter a cannabis sob controle rígido, cresce a pressão da sociedade civil, da comunidade médica e até de parte do eleitorado republicano para que os EUA modernizem suas políticas de drogas — com base em ciência, saúde pública e liberdade individual, e não em estigmas ultrapassados.
