Uma descoberta inovadora trouxe à tona o potencial de uma planta minúscula e endêmica da Nova Zelândia, conhecida como wairuakohu, que apresenta compostos químicos similares aos encontrados na cannabis medicinal. Segundo os cientistas, essa planta, que cresceu nas florestas da região por milhões de anos, pode abrir caminho para novos produtos terapêuticos, sem os efeitos colaterais associados ao THC.
O estudo recente identificou dois compostos únicos na wairuakohu: PET, que anteriormente só havia sido encontrado em uma espécie de hepáticas no Japão, e PTD, um composto inédito na natureza. Esses compostos se assemelham ao THC e ao CBD, componentes chave da cannabis medicinal.
Dr. Richard Espley, cientista da Plant and Food Research, explicou a relevância dessa descoberta:
“Muito poucas plantas produzem compostos desse tipo. O fato de esta produzir tanto uma substância similar ao THC quanto ao CBD é algo crucial, já que o CBD é um dos principais constituintes da cannabis medicinal.”
Potencial e preservação da planta
O projeto foi liderado por um consórcio de pesquisa coordenado por iwi Te Kawerau a Maki, Ngāti Hauā e Ngāti Hinerangi, em parceria com a Rua Bioscience Ltd e outras instituições. O cofundador da Rua Bioscience, Manu Caddie, destacou que a planta pode ser cultivada em ambientes internos sem comprometer seus compostos especiais.
Caddie alertou contra a exploração indiscriminada da planta na natureza, já que o consumo direto dela não traz benefícios terapêuticos e pode colocá-la em risco de extinção.
“Qualquer um que retire plantas ou fungos da floresta sem autorização dos kaitiaki (guardião ou protetor) é um bio-pirata e deve ser identificado como tal”, afirmou Manu Caddie.
Implicações econômicas e científicas
Embora seja cedo para determinar o potencial comercial do wairuakohu, a pesquisa abre portas para o desenvolvimento de produtos com benefícios similares aos da cannabis, mas sem os efeitos psicoativos do THC. Atualmente, a indústria de cannabis medicinal na Nova Zelândia tem projeções de alcançar um valor superior a 230 milhões de dólares nos próximos dez anos.
Ainda assim, Dr. Richard Espley destacou os desafios e custos elevados de transformar essas descobertas em novos medicamentos.
“Os sinais são promissores, mas ainda estamos nos estágios iniciais”, disse Espley.
O estudo ressalta também a importância de preservar e explorar a biodiversidade local, uma vez que muitas outras espécies nativas podem conter segredos terapêuticos ainda desconhecidos.
Próximos passos
Mais pesquisas serão realizadas para garantir a conservação do wairuakohu e explorar seu potencial de cultivo e uso. A descoberta representa não apenas uma oportunidade econômica, mas também um marco na valorização do conhecimento local e da ciência liderada por comunidades indígenas.