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Pesquisadores indicam que psicodélicos podem ajudar a controlar inflamações ligadas a doenças crônicas

by Redação

Estudos sugerem que substâncias como psilocibina, DMT e LSD reduzem moléculas inflamatórias sem comprometer o sistema imunológico, abrindo caminho para novos tratamentos contra depressão e artrite

Antes associadas ao movimento hippie e às experiências alucinógenas dos anos 1960, as drogas psicodélicas estão ressurgindo sob uma nova perspectiva: a médica. Por décadas, leis proibitivas sufocaram o avanço das pesquisas, mas com o esgotamento das terapias convencionais em saúde mental, cientistas estão revisitando esse campo controverso da medicina.

Substâncias como a psilocibina (presente nos chamados cogumelos mágicos) e a ayahuasca estão sendo estudadas não apenas pelos efeitos mentais que produzem, mas principalmente pelo potencial de cura. Inicialmente voltadas ao tratamento da depressão — condição em que os antidepressivos tradicionais falham para muitos pacientes — as investigações agora se estendem a doenças inflamatórias crônicas, como artrite, asma e doenças cardiovasculares.

Em experimentos com células humanas e estudos em animais, compostos como DMT, LSD e (R)-DOI mostraram capacidade de bloquear a liberação de citocinas — moléculas inflamatórias associadas a diversas doenças e à piora de lesões cerebrais. Diferente dos corticoides, que reduzem a inflamação mas suprimem o sistema imunológico, os psicodélicos parecem atuar sem esse efeito colateral.

Em um estudo com 60 voluntários saudáveis, uma única dose de psilocibina reduziu significativamente dois marcadores inflamatórios — TNF-alfa e IL-6 — por até uma semana. Resultados semelhantes foram observados com o uso da ayahuasca, que diminuiu os níveis de proteína C-reativa (CRP), indicando menor inflamação e melhora no humor de pacientes com depressão resistente a tratamentos.

Os pesquisadores acreditam que o efeito anti-inflamatório está ligado à ativação do receptor 5-HT2A, o mesmo que responde à serotonina, neurotransmissor conhecido como “hormônio da felicidade”. Curiosamente, os mecanismos responsáveis pela redução da inflamação parecem ser distintos dos que causam as alucinações — abrindo caminho para o desenvolvimento de compostos inspirados em psicodélicos, mas sem efeitos psicoativos.

Essa nova geração de medicamentos, batizada por cientistas de “Pipi drugs” (psychedelic-informed but psychedelic-inactive), busca replicar os benefícios terapêuticos das substâncias alucinógenas sem provocar alterações de percepção. Fármacos experimentais como o DLX-001 e o DLX-159, desenvolvidos pela empresa norte-americana Delix Therapeutics, já demonstram efeitos antidepressivos promissores sem induzir “viagens” psicodélicas.

Embora ainda em fase inicial, as evidências indicam que os psicodélicos — ou drogas derivadas deles — podem inaugurar uma nova era de tratamentos anti-inflamatórios. Ao separar os efeitos curativos dos alucinógenos, a medicina pode ganhar uma poderosa ferramenta contra doenças em que a inflamação é protagonista — do coração ao cérebro.

Com informações de Nicholas Barnes, Universidade de Birmingham — Via The Conversation

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