Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) desenvolveram um tijolo ecológico utilizando resíduos da planta cannabis. O objetivo é tornar a construção civil mais sustentável, reduzindo o impacto ambiental dos materiais convencionais.
O novo tijolo é produzido a partir do caule seco triturado da planta ou de resíduos do extrato do óleo de cannabis. Esses elementos substituem componentes tradicionalmente utilizados na construção, que podem ser prejudiciais ao meio ambiente, além de demandar menos cimento.
“O resíduo é algo interessante porque a planta é cultivada, colhida, o óleo é produzido e, atualmente, a Anvisa exige a queima desse material, o que gera desperdício. Com esse projeto, conseguimos reaproveitar tudo no próprio ciclo”, explicam os pesquisadores.
Batizado de Hempcrete, o projeto foi desenvolvido pelo Departamento de Engenharia Têxtil da UFRN e coordenado pela professora Viviane Muniz. A ideia surgiu quando a docente se deparou com um edital de incentivo à pesquisa sobre o uso medicinal ou industrial da cannabis.
“Quando vi o edital, pensei em como poderia trabalhar com cannabis sem enfrentar preconceitos, criando algo inovador dentro da engenharia. Então, conversei com a associação Reconstruir Cannabis, e, durante o diálogo, percebemos que ninguém aproveitava os resíduos da planta. Foi aí que surgiu a ideia do tijolo”, conta a professora.
A pesquisa recebeu R$ 150 mil da Fundação de Amparo e Promoção da Ciência, Tecnologia e Inovação do Rio Grande do Norte (Fapern) por meio do edital de 2022. Além disso, o projeto também obteve um aporte de R$ 150 mil por meio de uma emenda parlamentar da deputada estadual Isolda Dantas (PT).
Próximos passos
O desenvolvimento dos tijolos envolve a moagem e o tratamento dos resíduos antes de serem misturados aos demais componentes do material. Em seguida, a massa é prensada e moldada no formato final. O processo é concluído com a secagem completa do produto.
Atualmente, os pesquisadores buscam aprimorar o material, ajustando o tamanho da fibra e a consistência do tijolo para garantir mais resistência. Também está sendo avaliada a adição de cal para fortalecer a estrutura.
Uso de tijolos de cannabis no mundo
Embora inovadora no Brasil, a ideia de utilizar resíduos da cannabis na construção civil já foi explorada em outros países. Em 2020, uma parceria entre israelenses e palestinos resultou no desenvolvimento de um bloco de concreto de cânhamo, também voltado para a sustentabilidade.
Esse material, produzido a partir da parte interna do caule do cânhamo misturada com dois tipos de cal e um tipo especial de argila, apresenta diversas vantagens: alta resistência, leveza, isolamento térmico e acústico eficiente, além de ser resistente ao fogo.
Diferente do concreto tradicional, o hempcrete não utiliza cimento em sua composição, o que torna seu processo de secagem e cura artesanal. Embora o tempo de preparo possa chegar a 60 dias, essa característica garante que as paredes construídas com o material fiquem livres de umidade, promovendo maior durabilidade.
Com o avanço das pesquisas no Brasil, o tijolo desenvolvido pela UFRN pode representar um passo importante para a introdução de soluções mais sustentáveis na construção civil nacional.