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Micélio e cânhamo: funerais ecológicos ganham espaço com caixões biodegradáveis

by Redação

Enquanto o mundo avança em pautas ambientais e repensa seus rituais de vida e morte, opções de sepultamento mais sustentáveis começam a ganhar visibilidade, desafiando o modelo tradicional centrado no consumo e na destruição ambiental. Uma das alternativas que tem se destacado é o uso de caixões feitos com cânhamo e micélio, tecnologia que alia inovação e respeito à natureza mesmo no fim da vida.

Desenvolvido pela empresa holandesa Loop Biotech, o Living Cocoon é um caixão biodegradável criado a partir de micélio — o sistema de raízes dos cogumelos — combinado a fibras reaproveitadas de cânhamo. A peça “cresce” em moldes naturais e se decompõe totalmente em apenas 45 dias após o enterro, sem a presença de vernizes, metais ou qualquer material de lenta decomposição.

O design minimalista da urna fúnebre é pensado para facilitar a reintegração do corpo ao ciclo de vida do solo. O interior é forrado com cama de cânhamo e travesseiro de musgo, com a possibilidade de upgrade para tecidos orgânicos como algodão e lã. Com peso de 30 kg e capacidade para até 200 kg, o caixão inclui seis alças integradas, combinando funcionalidade com apelo estético.

Além dos caixões, a Loop Biotech também comercializa urnas ecológicas para cinzas. Os preços variam de €125 (cerca de R$820) até €1.495 (cerca de R$10 mil), dependendo do modelo e dos acabamentos escolhidos. A empresa já atua na Europa e nos Estados Unidos, e simboliza uma tendência crescente: os chamados “funerais verdes”, que buscam minimizar os impactos ambientais associados às práticas funerárias tradicionais.

Esse movimento, que começou a ganhar força nos anos 1990, inclui também métodos como a compostagem humana — que transforma o corpo em solo fértil em poucas semanas — e a hidrólise alcalina, também conhecida como cremação aquática, que utiliza água e agentes alcalinos para decompor o corpo sem emissões tóxicas ou poluentes.

O uso do cânhamo nessas tecnologias não é mero detalhe. Trata-se de uma planta versátil, resistente e de rápido crescimento, amplamente reconhecida por seu potencial ecológico. A incorporação do cânhamo a práticas sustentáveis de fim de vida reafirma seu valor social e ambiental, desafiando décadas de estigmas e proibições infundadas que ainda limitam seu uso no Brasil e em outras partes do mundo.

Ao transformar corpos em adubo vivo, a inovação funerária nos convida a pensar em uma despedida mais ética, simbólica e integrada à terra — com menos concreto, menos cinzas industriais e mais vida devolvida ao planeta.

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