O ano de 2024 começou com grandes esperanças para a indústria de cannabis nos Estados Unidos, mas, à medida que o ano chega ao fim, muitos desses sonhos permanecem não realizados. A grande expectativa estava na reclassificação da cannabis, um movimento que tiraria a planta da lista de substâncias proibidas da Lei de Substâncias Controladas. No entanto, o processo estagnou, e os defensores da legalização agora olham para o futuro com incerteza, especialmente com a chegada de uma nova administração.
Alex Halperin, que cobre a indústria de cannabis desde 2015, destaca que a reclassificação da cannabis ainda não avançou, apesar das promessas feitas durante a campanha de Joe Biden em 2020. Em janeiro de 2024, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) recomendou a reclassificação da cannabis de uma substância de Classe I para Classe III, o que permitiria que medicamentos derivados da planta fossem aprovados pela FDA. A partir dessa recomendação, a Administração de Controle de Drogas (DEA) sugeriu uma nova regra para reclassificar a cannabis e convidou o público a comentar sobre a proposta, recebendo mais de 40.000 respostas, das quais 69% apoiaram a descriminalização ou legalização federal da cannabis.
Entretanto, o processo foi interrompido, e a audiência que deveria ocorrer em dezembro foi adiada para o próximo ano. Halperin observa que a DEA tem resistido fortemente à pressão política, e ainda há dúvidas sobre quando ou se a reclassificação será implementada.
No ciclo eleitoral de 2024, a cannabis foi um tema importante, com os candidatos presidenciais, tanto democratas quanto republicanos, expressando apoio à reforma da legislação sobre a planta. Kamala Harris, vice-presidente dos Estados Unidos, se mostrou favorável à legalização federal, enquanto Donald Trump também demonstrou apoio a uma iniciativa na Flórida que buscava legalizar a cannabis recreativa. No entanto, apesar das promessas de apoio, nada concreto foi feito até o momento, com os eleitores da Flórida e de Dakota do Sul rejeitando iniciativas para legalizar a cannabis recreativa.
A questão sobre o que uma possível administração Trump fará em relação à cannabis permanece em aberto. Halperin sugere que, embora Trump tenha se mostrado mais aberto à reforma do que no passado, seu compromisso com o tema não está bem estabelecido. A maior resistência à reforma vem de republicanos eleitos em Washington, embora pesquisas indiquem que uma maioria de republicanos mais jovens apoia a legalização da cannabis.
Apesar das decepções políticas, a indústria de cannabis continuou a expandir em 2024. Estados como Ohio e Delaware começaram a conceder licenças para dispensários de cannabis recreativa, e os lounges de consumo de cannabis estão sendo legalizados em mais partes do país. No entanto, com a expansão do mercado, surgiram preocupações sobre a segurança dos produtos de cannabis, especialmente após uma reportagem do Los Angeles Times que revelou níveis alarmantes de pesticidas em produtos vendidos em dispensários da Califórnia.
Além disso, o mercado de cânhamo legal, menos regulamentado, também se tornou alvo de crescente preocupação devido à venda de produtos contaminados e mal rotulados, muitas vezes encontrados em postos de gasolina ou supermercados sem restrições de idade. Enquanto isso, reformas como a Lei de Bancos Seguros (Safe Banking Act), que permitiria que negócios de cannabis tivessem acesso a serviços financeiros, continuam estagnadas no Congresso.
A incerteza sobre o futuro da cannabis nos EUA continua, com a indústria aguardando para ver se o país avançará para uma reforma real ou permanecerá em um limbo legislativo nos próximos anos.