As novas tarifas comerciais anunciadas nesta semana pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, devem impactar diretamente a indústria legal de cannabis no país, com reflexos no preço final para o consumidor. A medida atinge em cheio empresas que dependem da importação de insumos da Ásia, especialmente da China, para a fabricação de produtos como vaporizadores, vidros especializados e embalagens.
Com os custos aumentando, especialistas alertam que a indústria pode não conseguir absorver o impacto sem repassar os valores ao consumidor final — o que pode, inclusive, fortalecer o mercado ilícito de cannabis.
Segundo Bryan Gerber, CEO da Hara Supply — maior fabricante mundial de cones e combustíveis para cannabis —, empresas que dependem de países tarifados precisarão “analisar seriamente como absorver os custos extras ou buscar novas parcerias comerciais”.
Itens essenciais como latas, vidros para armazenamento e componentes de vaporizadores continuam escassos no mercado interno norte-americano, forçando os fabricantes a manterem laços com fornecedores asiáticos.
Ações em queda e consumidores pressionados
As ações de gigantes do setor, como Tilray Brands (TLRY), Canopy Growth (WEED), Organigram (OGI) e Terrascend (TSND), registraram queda entre 5% e 10% após o anúncio das tarifas. O motivo? O aumento repentino dos custos operacionais.
“A maioria das empresas de cannabis não tem margem suficiente para absorver um aumento de 10% a 15% nos custos”, afirmou Mike Forenza, sócio-gerente da AE Global, empresa de embalagens para o setor.
Essa elevação nos preços pode empurrar muitos consumidores para o mercado clandestino, onde os custos são mais baixos e a regulação inexistente — o que representa um retrocesso nas políticas de legalização e segurança sanitária.
Além das tarifas contra a China, as novas medidas também atingem Canadá, México e União Europeia, afetando diversos elos da cadeia de produção da cannabis legal.
“Trabalhamos com um fabricante que importa o vidro da China, a madeira do Canadá, monta no México e distribui nos EUA. Como tudo isso vai ser taxado?”, questiona Brad Wasserstrom, presidente da Wasserstrom Co., empresa da cadeia de suprimentos da indústria canábica.
Segundo ele, os impactos já estão sendo sentidos: queda nas taxas de pedidos e enfraquecimento da demanda, reflexo direto do repasse dos custos tarifários aos consumidores.
A escalada da guerra comercial pode prejudicar um setor que já enfrenta altas tributações, regulações rígidas e dificuldades bancárias nos EUA. A importação de insumos como turfa e composto para cultivo, por exemplo, também está na mira das novas tarifas, o que compromete até mesmo a produção agrícola de cannabis.
No final das contas, o peso da crise recai sobre o consumidor — e, indiretamente, sobre a própria eficácia das políticas públicas que incentivam o uso medicinal e recreativo da planta.