Pesquisadores das universidades canadenses UBC Okanagan e Thompson Rivers University divulgaram um estudo piloto que revela um dado promissor: o uso supervisionado de cannabis medicinal em clínicas de reabilitação pode reduzir o desejo por opioides e melhorar a adesão ao tratamento.
O estudo foi realizado no Maverick Supportive Recovery, um centro residencial para tratamento de dependência na província de British Columbia, e mostra que os pacientes que utilizaram cannabis medicinal relataram melhora em sintomas como ansiedade, depressão, dor crônica e distúrbios do sono — fatores que frequentemente dificultam o processo de recuperação.
“Nossos achados sugerem que a cannabis medicinal pode desempenhar um papel importante na redução das fissuras e na permanência dos pacientes em programas de recuperação”, explica o professor de psicologia Zach Walsh, da UBC Okanagan, um dos líderes da pesquisa.
Os participantes do estudo relataram uma série de benefícios, como menor fissura por opioides e outras substâncias prejudiciais, melhor controle da dor física, aumento da qualidade do sono e redução de sintomas de ansiedade e depressão. Esses efeitos positivos, segundo os pesquisadores, contribuíram para uma permanência mais estável nos programas de recuperação, algo essencial para o sucesso a longo prazo de pacientes em reabilitação por uso problemático de substâncias.
Apesar dos resultados positivos, os pesquisadores alertam para um obstáculo ainda presente: o estigma associado ao uso da cannabis medicinal em ambientes terapêuticos. A equipe de pesquisa identificou que a resistência por parte de profissionais de saúde está, muitas vezes, ligada à falta de conhecimento técnico sobre a planta e seus potenciais terapêuticos.
“A resistência de parte da equipe técnica vem, muitas vezes, de desinformação”, explica a enfermeira e coautora do estudo, Dra. Florriann Fehr, da Thompson Rivers University. “Investir em capacitação e educação é fundamental para integrar a cannabis como uma ferramenta legítima no tratamento da dependência.”
O estudo foi publicado na revista Journal of Studies on Alcohol and Drugs e contou com apoio financeiro da Interior Universities Research Coalition e do Ministério da Saúde da Colúmbia Britânica. Os autores enfatizam a necessidade de ampliar a amostra em estudos futuros, para consolidar a cannabis medicinal como parte efetiva e segura no arsenal terapêutico contra a dependência química.
A equipe da TRU organiza ainda o fórum “Medical Cannabis and Recovery”, que será realizado no dia 26 de abril e será aberto ao público, pesquisadores e profissionais de saúde interessados em alternativas de cuidado com base em evidências.
À medida que cresce o interesse internacional pelo uso terapêutico da cannabis, estudos como este trazem evidências práticas sobre seu papel potencial na recuperação de dependências químicas — uma das áreas mais desafiadoras da saúde pública. Além disso, o Canadá segue na vanguarda da pesquisa e regulação sobre a planta, podendo inspirar políticas mais humanizadas em países como o Brasil.
