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Estudo da USP revela que o canabidiol pode reduzir a febre de forma eficaz e seletiva

by Redação

Pesquisa inédita da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto indica que o CBD tem efeito antipirético e anti-inflamatório sem alterar a temperatura normal do corpo

A febre, uma das respostas mais conhecidas do corpo diante de infecções e inflamações, pode vir a ser controlada por um novo aliado: o canabidiol (CBD). Um estudo desenvolvido na Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP mostrou que a substância — um dos principais compostos da cannabis — foi capaz de reduzir a febre de maneira eficaz e seletiva em testes com camundongos.

O trabalho, publicado na revista Progress in Neuro-Psychopharmacology and Biological Psychiatry, foi orientado pelo professor Luiz Guilherme Siqueira Branco, do Departamento de Biologia Básica e Oral da Forp. Segundo ele, apesar do crescente uso do CBD em diversas condições clínicas, seus efeitos sobre a febre ainda não haviam sido explorados. “Nós já conhecíamos as propriedades anti-inflamatórias do canabidiol, mas não havia estudos específicos mostrando como ele atuava na febre induzida por inflamação”, explica.

Nos experimentos, os pesquisadores induziram febre em camundongos por meio de injeções de lipopolissacarídeo (LPS), uma substância derivada de bactérias que provoca inflamação. O canabidiol foi administrado antes da aplicação do LPS e, a partir daí, a temperatura corporal e os marcadores inflamatórios dos animais foram monitorados.

Os resultados mostraram que o CBD reduziu a febre sem alterar a temperatura normal — o que indica uma ação seletiva, diferente dos antipiréticos tradicionais, que podem causar hipotermia. “O canabidiol reduziu a febre apenas quando havia inflamação. Isso mostra que ele atua de forma inteligente sobre os mecanismos do corpo”, afirma o pesquisador.

O estudo também identificou que o CBD diminui os níveis de citocinas inflamatórias, como TNF-α, IL-1β e IL-6, e aumenta a produção da citocina anti-inflamatória IL-10. Além disso, reduziu a PGE2 e a corticosterona, hormônio ligado ao estresse. “Esses resultados reforçam a ação anti-inflamatória do canabidiol, mostrando que ele interfere em diferentes etapas do processo febril e da resposta imune”, detalha Siqueira Branco.

Embora os resultados sejam promissores, o professor ressalta que a pesquisa ainda está em fase inicial. O estudo foi realizado apenas em camundongos machos e com dose única, sendo necessários novos testes em fêmeas, em modelos de inflamação crônica e, principalmente, em humanos. “O CBD pode representar uma alternativa mais segura aos antipiréticos convencionais, especialmente para pacientes com restrições a medicamentos comuns, mas ainda precisamos avançar muito antes de pensar em aplicações clínicas”, pondera.

Para o pesquisador, compreender o papel do CBD na regulação da febre também ajuda a conectar aspectos físicos e mentais da saúde. “Estados inflamatórios persistentes podem contribuir para distúrbios como ansiedade e depressão. Esses achados abrem novas possibilidades para explorar a relação mente-corpo e novas abordagens terapêuticas”, conclui.

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