Pesquisadores destacam que ambos os caminhos podem gerar insights transformadores associados à melhoria do bem-estar
Um novo estudo publicado na revista Consciousness and Cognition reforça a ideia de que há fortes semelhanças entre experiências significativas com psicodélicos e a prática da meditação. Os participantes relataram insights “altamente similares” nos dois casos, os quais, segundo os pesquisadores, estão diretamente associados a melhorias no bem-estar.
De acordo com a análise, experiências meditativas foram mais frequentemente associadas a percepções de caráter místico, enquanto os relatos envolvendo psicodélicos destacaram mais reflexões sobre valores pessoais. Ainda assim, os cientistas afirmam que as semelhanças se sobressaem em relação às diferenças.
A pesquisa reuniu 213 relatos narrativos, sendo 147 de pessoas que vivenciaram experiências significativas com psicodélicos — divididos entre clássicos (como LSD, psilocibina e DMT) e não clássicos (MDMA, cetamina e cannabis) — e 66 de indivíduos que relataram experiências profundas durante práticas de meditação.
“Os resultados destacam as semelhanças entre experiências com psicodélicos e meditação, apoiando a noção de que vivências transformadoras não são exclusivas dos psicodélicos clássicos, mas podem ser facilitadas por diferentes meios”, afirmam os autores.
As narrativas foram categorizadas em três tipos principais de insights: místicos (como unidade e percepções metafísicas), psicológicos (metacognitivos, de valor e de compaixão) e filosófico-existenciais (propósito e sentido). Em todos os grupos, os relatos de insights estavam ligados à percepção de maior bem-estar.
O estudo foi conduzido por uma equipe internacional de pesquisadores da Åbo Akademi University, da University of Turku e da University of Helsinki (Finlândia), da University of Skövde (Suécia) e da Stanford University (EUA).
Outras pesquisas recentes também reforçam a conexão entre práticas meditativas e o uso de psicodélicos. Um levantamento publicado na PLoS ONE em 2024 revelou que quase 74% de adultos que meditavam regularmente relataram benefícios na qualidade de sua meditação ao usar psicodélicos. Já outro estudo de 2023 apontou que praticantes de yoga que consumiram cannabis antes da atividade tiveram níveis mais elevados de atenção plena e experiências místicas.
Esses achados ressaltam um ponto central defendido por cientistas e ativistas antiproibicionistas: mais do que o estigma em torno dessas substâncias, é o contexto — o chamado set and setting — que desempenha papel fundamental no impacto terapêutico e transformador de experiências com psicodélicos e cannabis.