Pesquisa com quase 38 mil participantes sugere que a planta pode desacelerar o envelhecimento cerebral
O uso de cannabis pode estar associado a um melhor desempenho cognitivo em adultos mais velhos, segundo um estudo de grande escala financiado pelo governo dos Estados Unidos. A pesquisa, publicada este mês como pré-print pela Nature Portfolio, analisou dados de imagem cerebral e testes cognitivos de 37.929 pessoas no Reino Unido, com idades entre 44 e 81 anos.
Os resultados mostraram que usuários de cannabis tiveram desempenho superior a não usuários em diversos testes de cognição. Os pesquisadores sugerem que a planta pode estar ligada a padrões cerebrais geralmente encontrados em pessoas mais jovens, indicando possível desaceleração do envelhecimento neural.
De acordo com o estudo, os canabinoides e endocanabinoides podem exercer efeitos neuroprotetores, ajudando a manter um equilíbrio saudável entre diferentes áreas do cérebro, algo essencial para o processamento especializado e a transferência eficiente de informações. O trabalho contou com cientistas do Georgia Institute of Technology, Emory University, Georgia State University, University of Colorado, Chinese Academy of Sciences e Tri-Institutional Center for Translational Research in Neuroimaging and Data Science.
O crescimento do consumo entre idosos foi destacado como uma tendência relevante. Essa faixa etária é hoje a que mais adere ao uso de cannabis, muitas vezes para tratar condições crônicas físicas e mentais.
Embora o estudo sugira benefícios que podem se estender da meia-idade até os 70 anos ou mais, os autores ressaltam que os efeitos da cannabis podem variar significativamente entre adultos mais velhos e jovens. A análise utilizou dados do UK Biobank, com exames de imagem e avaliações cognitivas detalhadas.
Os resultados indicam que o cérebro de usuários de cannabis apresenta características típicas de cérebros mais jovens, além de habilidades cognitivas aprimoradas, o que poderia reforçar a resiliência contra processos neurodegenerativos. Ainda assim, os cientistas alertam que são necessárias mais pesquisas para compreender os mecanismos envolvidos.
Estudos anteriores já apontaram possíveis efeitos positivos, como menor risco de declínio cognitivo subjetivo, melhorias na memória de trabalho e até ausência de relação significativa entre legalização da cannabis e aumento de diagnósticos de psicose.
