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Ditadura militar associava maconha a conspirações comunistas em dicionário da Polícia Federal

by Redação

Um dicionário “esquecido”, elaborado durante a ditadura militar no Brasil, e recentemente encontrado pela BBC News Brasil, associava o uso da maconha a conspirações comunistas. Intitulado Glossário de Entorpecentes e Drogas Afins, o documento, atribuído ao Serviço de Repressão a Tóxicos e Entorpecentes da Polícia Federal (PF), buscava catalogar termos que seriam usados por traficantes e usuários de drogas na década de 1970.

Segundo a ditadura, frases listadas no glossário eram suficientes para colocar alguém sob suspeita de envolvimento com o comércio ou consumo de entorpecentes. O material reflete a visão da época, marcada pelo desconhecimento sobre drogas e pela crescente repressão, sob a lógica de que o uso e o tráfico fariam parte de uma suposta estratégia comunista de “estímulo ao vício”.

O glossário apresentava diversos termos com conotações políticas, muitas vezes sem ligação direta com drogas. Por exemplo, o termo “Assembleia” era definido como “grupo de fumadores de maconha, meeting de viciados em maconha ou diamba”. Já “contestação” era descrito como “protesto jovem, de conotação tóxica”.

Outras expressões incluem “ele é da política”, que significava “da onda do fumo, linguagem de meliantes, tóxicos”, e “new left”, traduzido como “nova esquerda, da pregação tóxica”. A inclusão desses termos demonstra o esforço do regime em associar movimentos políticos e culturais a práticas criminosas, como forma de controle social e ideológico.

Contexto histórico e repressão às drogas

Publicações da época destacavam o aumento do uso e do tráfico de drogas no Brasil, fenômeno que preocupava o governo militar. A repressão às drogas tornou-se parte da estratégia de segurança nacional, com medidas como a destruição do “polígono nordestino da maconha” e campanhas para “alertar a juventude”.

O chefe do Serviço de Repressão a Tóxicos e Entorpecentes da PF, Guimarães Alves, reconhecia a falta de preparo dos policiais sobre o tema e defendia um trabalho mais educativo do que repressivo. Em 1970, ele declarou: “É lamentável a insipiência de nossos homens no tocante ao mínimo de conhecimento dos toxicômanos.”

Guimarães também elaborou um plano para combater o uso de drogas, incluindo ações como a publicação de artigos sobre os riscos do consumo para estudantes e a realização de um congresso nacional de entorpecentes. Ele deixou como legado um glossário toxicológico, que serviria como referência para seu sucessor, Carl Grobman.

Documento desaparecido

O glossário, no entanto, não consta nos arquivos oficiais da Polícia Federal nem no acervo documental do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Em nota, a PF informou: “Foi feita uma busca no acervo da biblioteca da Diretoria de Ensino da Academia Nacional de Polícia, bem como em seu arquivo depositário, e não foi identificada a referida obra.”

O documento, embora esquecido pelos órgãos oficiais, oferece um retrato do clima político da época, no qual o combate às drogas se entrelaçava com a repressão ideológica e as estratégias de controle do regime militar.

Veja algumas imagens do glossário:

Fonte: BBC News Brasil

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