Um novo estudo sobre a dispersão de pólen de cannabis revela as diversas dinâmicas sazonais e condicionais que contribuem para o risco de polinização cruzada entre cultivos. A pesquisa mostra que “as taxas de dispersão de pólen aumentam do verão para o outono” e que o pólen tende a viajar mais longe de sua origem durante o dia.
O estudo, publicado na revista Scientific Reports, explora um problema pouco estudado, mas de grande impacto para os produtores de cânhamo. A polinização cruzada com plantas de maconha próximas, por exemplo, pode fazer com que uma colheita de cânhamo ultrapasse o limite federal de THC ou até mesmo hibridize variedades de cânhamo desenvolvidas para características específicas.
A polinização cruzada entre campos vizinhos “se tornou um desafio significativo”, afirma o relatório, “levando a sementes contaminadas, redução na produção de óleo e, em alguns casos, destruição obrigatória das lavouras”.
“Esta investigação representa um esforço pioneiro para avaliar os riscos potenciais associados à polinização cruzada de cânhamo transportada pelo vento, enfatizando a variabilidade do risco em diferentes estações e regiões geográficas”, escreveram os autores da pesquisa, da Virginia Tech. Eles acreditam que este estudo é “inédito em sua simulação abrangente das desigualdades regionais e sazonais na dispersão de pólen, com foco específico no cânhamo”.
A equipe usou dados meteorológicos e modelagem para simular a dispersão do pólen de cânhamo nos 48 estados contíguos dos EUA, com base nas condições locais de cada região, durante os meses de julho a novembro. Para cada município, foram considerados os dados climáticos do ponto mais próximo ao centro da jurisdição, e as medições foram feitas durante o dia e a noite.
Os pesquisadores simularam a dispersão do pólen “viajando nas direções do vento e verticalmente”, contando o número de partículas depositadas “em faixas de 250 metros de largura até 50 km de distância da origem”. No total, o estudo envolveu 31.070 simulações.
O objetivo da pesquisa, segundo os autores, é ajudar os produtores de cânhamo e os formuladores de políticas a entenderem melhor a dispersão do pólen e seus riscos variáveis ao longo de regiões, estações e períodos do dia.
“A polinização cruzada tem sido um desafio para os produtores de cânhamo, e gostaríamos que a indústria continuasse a crescer nos EUA”, disse Manu Nimmala, autor principal do estudo e estudante de doutorado em engenharia mecânica na Virginia Tech. “Esperamos que essas informações possam ajudar tanto os formuladores de políticas quanto os agricultores”.
O estudo conclui que as variações nos padrões de dispersão de pólen ao longo do tempo e das regiões dificultam a prevenção definitiva da polinização cruzada. Em vez disso, ele sugere a adoção de estratégias adaptativas para gerenciar riscos e evitar perdas. “Essas variações complicam a definição de distâncias de isolamento uniformes, sugerindo a superioridade de estratégias adaptativas de gestão de riscos”, afirmam os autores.
O estudo também revela que as taxas de deposição de pólen aumentam do verão para o outono, devido à redução da atividade convectiva durante o dia e ao aumento do cisalhamento do vento à noite, conforme a estação avança.
“Detectamos variações diurnas pronunciadas na dispersão do pólen: as condições noturnas favorecem a deposição próxima à origem, enquanto as condições diurnas facilitam a dispersão mais ampla, embora com taxas de deposição reduzidas”, explica o estudo, que serve como base para o desenvolvimento de abordagens sofisticadas para gerenciar os riscos de polinização cruzada agrícola.
Shane Ross, coautor do estudo e professor na Virginia Tech, afirmou que o cânhamo é particularmente propenso à polinização cruzada não intencional devido ao tamanho reduzido das partículas de seu pólen, que viaja mais longe e se deposita em maiores quantidades do que o pólen de outras culturas.
O relatório observa que, embora os modelos tenham se concentrado no pólen de cannabis, especificamente no cânhamo, “as metodologias são amplamente aplicáveis à dispersão de quaisquer partículas leves”.
A pesquisa é uma resposta crescente à atenção dada à produção de cânhamo, especialmente após a legalização da cultura nos EUA, com a aprovação da Farm Bill de 2018. Além disso, a produção de cânhamo enfrenta desafios regulatórios, como mudanças em programas de seguro agrícola e a crescente regulamentação da indústria.
Ao mesmo tempo, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) continua a trabalhar para impulsionar a indústria de cânhamo, incluindo esforços para promover o cânhamo cultivado nos EUA em mercados internacionais.
Com a evolução da legislação e os desafios da polinização cruzada, a indústria de cânhamo ainda enfrenta um cenário de incertezas, com a possibilidade de mudanças significativas nas regulamentações que podem impactar a viabilidade de certos produtos à base de cânhamo no mercado.