Audiência acontece em meio a debate sobre reclassificação da planta e mostra uso político de narrativas proibicionistas
Um comitê do Congresso dos Estados Unidos, controlado por republicanos, agendou para o dia 18 de setembro uma audiência intitulada “Invasion of the Homeland: How China is Using Illegal Marijuana to Build a Criminal Network Across America”. O encontro será conduzido pelo Subcomitê de Supervisão, Investigações e Responsabilidade da Câmara.
Além do título alarmista, ainda não foram divulgados detalhes sobre a pauta completa nem os nomes dos especialistas que devem testemunhar. A escolha da narrativa, no entanto, reflete a crescente tentativa de associar o cultivo ilegal de cannabis à atuação de redes estrangeiras, especialmente da China, mesmo sem evidências públicas robustas que sustentem tal correlação.
Recentemente, parlamentares incluíram em um projeto de lei orçamentária a exigência de que agências federais investiguem plantações ilícitas de cannabis, com foco específico em eventuais vínculos com organizações criminosas transnacionais chinesas. O senador Chuck Grassley (R-IA) afirmou em 2024 que milhares de negócios de cannabis medicinal em Oklahoma teriam “conexões chinesas”, enquanto a senadora Susan Collins (R-ME) também vem pressionando autoridades sobre o tema em seu estado.
A narrativa encontrou eco em grupos proibicionistas como o Smart Approaches to Marijuana (SAM), que em julho lançou uma campanha publicitária alegando que a eventual reclassificação da cannabis pelo governo Biden fortaleceria “cartéis chineses”. Já em 2023, um grande lobby da cannabis chegou a se desculpar após citar investimentos da China em uma carta ao Senado para defender mudanças na legislação bancária voltada ao setor.
Especialistas destacam que a audiência ocorre em um momento decisivo, já que a Casa Branca deve anunciar em breve sua decisão sobre a proposta de reclassificar a cannabis da Lista I para a Lista III da Lei de Substâncias Controladas. Essa mudança pode reduzir barreiras para pesquisa científica e aliviar restrições sobre negócios regulados.
O agendamento da audiência reforça como narrativas de “invasão estrangeira” e de suposta ameaça à segurança nacional continuam sendo usadas para frear avanços em direção a uma política mais racional e baseada em evidências. Para críticos do proibicionismo, trata-se de uma estratégia para perpetuar o estigma em torno da cannabis e manter a criminalização de comunidades vulneráveis, desviando o debate do que realmente importa: saúde pública, justiça social e desenvolvimento econômico.
