Ao contrário do que muitos podem pensar, o mercado da cannabis já opera em grande escala em países estrangeiros de forma semelhante às indústrias tradicionais – e, no Brasil, não será diferente. Em meio a tantos desafios, um dos aspectos positivos desse avanço tardio na regulamentação brasileira é que o mercado nacional da cannabis pode se beneficiar aprendendo com os erros de outros que cresceram exponencialmente e, devido à falta de tecnologia, não puderam aproveitar os dados gerados nesse processo. Afinal, há menos de dez anos, a cannabis e seus derivados ainda faziam parte única e exclusivamente do mercado ilegal na maioria dos países, o que não facilitou a coleta de informações sobre a indústria.
O mercado da cannabis é estimado em mais de R$ 26 bilhões no Brasil depois de quatro anos regulamentado, sendo que a cannabis medicinal pode representar quase 40% desse total nos próximos anos. Isso é mais do que o mercado de higiene movimenta no país e nada mais importante do que a coleta, o uso e a análise de dados para um crescimento sustentável e de longo prazo. Para o primeiro texto da Kaya Mind na coluna do portal de notícias Cannabis Medicinal, decidimos trazer um pouco do impacto que os dados podem ter em cada área desse mercado.
Medicinal
Atualmente, no Brasil, o mercado medicinal é o mais desenvolvido da cannabis, chegando a movimentar pelo menos R$ 37 milhões em 2020 e deve ainda dobrar em 2021, com projeção de fechar em mais de R$ 100 milhões. No ano de 2021, houve muitas mudanças e avanços: já são mais de 14 produtos de 11 marcas diferentes liberados para vendas nas farmácias e mais de 800 produtos – de bombas de banho à tinturas hiper concentradas, servindo às mais diversas finalidades – que foram importados via Anvisa por diferentes pessoas ao redor do Brasil.
Ainda, mais de 50 mil pessoas têm a liberação por parte da agência reguladora para fazer a compra de produtos à base de cannabis, sendo que cada um desses indivíduos passou por um processo diferente para aceitar o tratamento, conseguir uma consulta com um médico prescritor e ter sua prescrição avaliada para que uma vez fosse liberado para realizar a compra e aguardar o envio do produto à sua residência. Todas essas etapas geram uma série de informações essenciais para as marcas e os prescritores de saúde que estão navegando por um mercado com muita burocracia e, ao mesmo tempo, muito potencial. Para ajudar esses stakeholders, a Kaya Mind criou um dashboard voltado para o mercado farmacêutico – entre em contato para mais informações.
Cultivo
A cannabis é uma planta que cresce naturalmente em determinadas condições, como nas montanhas do Marrocos ou da Índia. Contudo, nos últimos anos, empresas e growers evoluíram suas habilidades de cultivo, trouxeram a planta para um sistema indoor e passaram a se especializar em como aprimorar esse processo para colher frutos melhores e mais potentes. A finalidade do uso também norteia a complexidade do cultivo, sendo o medicinal aquele com maior rigor exigido para passar no crivo.
Com uma vasta quantidade de dados, os produtores podem garantir uma melhora constante nas variáveis que afetam a qualidade do produto, dentre elas: temperatura, umidade, pH da água e do solo, frequência e tipo de adubo, maquinário de colheita, estrutura física de segurança e higiene, tracking do produto e outras que podem impactar na concentração dos fitocanabinoides quando o produto está pronto para consumo. Em países onde a regulamentação já está mais avançada, como é o caso do Canadá, já existem empresas especializadas em criar softwares e programas que, a partir da leitura e análise dos dados, conseguem automatizar os cultivos para que sejam necessários menos esforços com um maior rendimento.
Regulatório
Seja para empresários e empreendedores que navegam nesse setor, ou os próprios reguladores e consumidores finais, o uso de informações de qualidade é imprescindível para que as leis sobre a cannabis sejam feitas de maneira responsável, com políticas públicas certeiras voltadas para a mitigação dos danos históricos causados pela marginalização dos povos mais afetados e que democratizem o acesso aos derivados da planta. Além disso, uma vez que o mercado estiver totalmente regulado, as obrigações com relação às informações e aos dados crescerão ainda mais. Isso porque, na maioria dos países em que o cultivo e a venda estão liberados, o governo exige que as empresas forneçam dados de cultivo, envio, produção e vendas (Seed-to-Sale) para monitorar todo o processo de distribuição.
Para os reguladores, entender a evolução das pesquisas e como é a experiência em outros países é uma forma de garantir leis mais precisas desde a implementação do marco regulatório, tendo sempre em mente que nenhuma lei resolverá todos os problemas gerados pela ilegalidade inicial e que revisões constantes serão necessárias. Em outras palavras, toda mudança na lei é um processo difícil e precisa de tempo para ser aplicada pelos stakeholders. No Brasil, por exemplo, o projeto de lei mais avançado e que engloba mais pilares é o PL 399/15 , que foi aprovado por uma comissão da Câmara dos Deputados no final de 2021 e pode ser votado no plenário em 2022.
Varejo
Com a regulamentação atual, já existem diversas empresas atuando no varejo por meio da cannabis. Isso se dá devido a necessidade de pacientes em fazer a compra de produtos à base da planta em sites como o da Terra Cannabis, mas também por conta de periféricos do setor, como é o caso das tabacarias, growshops e farmácias. Conforme a evolução das leis, haverá uma maior facilidade de acesso ao uso medicinal e se iniciará um movimento para incluir produtos com cânhamo e o uso adulto, o que aumentará ainda mais a necessidade de pontos de venda específicos para derivados da cannabis.
A partir do aumento da oferta de produtos, virão novos desafios como a concorrência de preços, novas tecnologias, estratégias de comunicação e outras variáveis que mercados consolidados já enfrentam. Nesse momento, uma base de dados estruturada e com histórico é essencial para os empresários que querem garantir estratégias mais robustas e com menor potencial de erro, bem como para obter informações sobre os concorrentes, o que pode auxiliar nas táticas de marketing, branding e vendas.
Próximos passos dos dados de cannabis no Brasil
O uso de dados pode e deveria se parecer com qualquer outra tarefa do dia a dia de uma empresa. Normalmente, se inicia com a liderança e passa a ser incorporado por todo o time como algo que sustenta o trabalho em desenvolvimento. Para isso, é muito importante que seja feita uma leitura correta e uma análise dos dados, uma vez que uma base de dados não tratada pode trazer insights irreais.
Ainda, para as empresas que pretendem aderir ao uso dos dados no dia a dia, a tecnologia é uma parceira imparcial e fundamental para garantir um trabalho bem feito, com responsabilidade e transparência. Informações de qualidade são essenciais para ajudar todos os tipos de operações em torno da cannabis e as empresas que entenderem a relevância do uso de bancos de dados e das ferramentas de análise poderão tomar decisões de negócios mais inteligentes e bem informadas.
*Escrito por Maria Eugenia Riscala e Thiago Cardoso.
Maria Eugenia é a CEO da Kaya Mind – atua diretamente no atendimento e prospecção de clientes e parceiros, além de ser administradora financeira da operação. Já Thiago Cardoso é o CIO na empresa, chefe de inteligência de mercado e dados, trabalhando com o time para entregar os melhores projetos, além de ser o Data Protection Officer da companhia.
A Kaya Mind transforma informações e dados em insights e análises para o setor da cannabis, cânhamo e seus periféricos a partir de metodologias quantitativas e qualitativas. Eles sabem do potencial desse mercado, assim como o impacto que a regulamentação pode ter na vida das pessoas, desde que seja feita de maneira responsável. Querem auxiliar profissionais, negócios, empresas e governos a compreenderem um mercado ainda sem respostas.