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Cresce o uso medicinal da cannabis em pets

by contato

A minha história com a cannabis medicinal começou em 2008 com o primeiro animal que tratei com a planta. Eu ainda era um estudante e minha namorada tinha um poodle que começou a apresentar sinais de doença neurológica, mas ela não queria fazer tratamento alopático por causa dos efeitos colaterais. Após ver os resultados positivos, resolvi então pesquisar e estudar tudo que pudesse sobre a cannabis nos animais.

Então em 2010 me formei e comecei o acompanhamento de alguns pacientes que estava tratando e julguei necessária a terapia com a cannabis. Iniciei com pacientes que eram animais de familiares, amigos e pessoas próximas. Desde então, tenho obtido resultados cada vez melhores e foi em 2018 que resolvi divulgar todos esses resultados para que mais veterinários pudessem aderir à terapia com a cannabis em seus pacientes e trazer conforto e qualidade de vida mesmo quando tudo parece perdido.

Foi nessa época também que conheci a igreja do padre Ticão e seus fiéis. Lá fiz grandes amizades, iniciei o ciclo de aulas, palestras e tirei do papel a ideia de montar uma associação. O que era apenas um sonho, virou uma realidade. A nossa equipe é formada por médicos veterinários capacitados e experientes na área da medicina endocanabinoide. Entre os profissionais estão a médica veterinária Lia Nasi, especialista em felinos, que foi essencial para todo desenvolvimento e corpo médico para atendimento às ONG’s que são especialistas em tratamento com cannabis em animais.

Projeto em construção
Percebendo a dificuldade dos veterinários em lidar com essa nova medicina, decidi lançar um curso para capacitá-los à prescrição da cannabis e também montar uma associação, onde esses animais seriam tratados com respeito, amor e carinho. Todo esse tratamento vai ser oferecido as ONGs, abrigos e animais resgatados por protetores. O nosso trabalho vai ser voltado totalmente aos animais mais necessitados que tem no nosso país, mas sem esquecer dos demais pets, que sempre serão muito bem-vindos na associação.

Então, além dos animais necessitados que não podem ter um tutor para cuidar e dar carinho, nós vamos também oferecer a medicina para animais de tutores que venham com prescrição médica. Teremos também veterinários parceiros, que ficarão disponíveis no site da associação para que qualquer região do Brasil possa ter um atendimento de qualidade com um médico apto e certificado para o devido tratamento com a cannabis.

Insegurança jurídica
Com o crescente número de pesquisas sobre cannabis, surgiu então o uso de cannabis medicinal em animais que se difundiu pelo universo veterinário e está cada vez mais popular entre os tutores. A cannabis pode ser utilizada em casos comportamentais e também de saúde como epilepsia, câncer, inflamações, artrites, artrose, dores crônicas, câncer, doenças infecciosas e etc.

Quem regula o trabalho dos médicos veterinários é o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e quem a fiscaliza é o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), e nenhum dos dois se manifesta sobre o uso da cannabis na medicina veterinária, o único parecer foi do CFMV que diz que o médico veterinário tem que judicializar a prescrição da cannabis para cada paciente isoladamente.  Mas os médicos veterinários estão respaldados a prescrição pelo estatudo de medicina veterinária .

Cannabis é uma planta rica

Existem mais de 500 componentes químicos presentes na cannabis, sendo o CBD (canabidiol) e o THC (Tetra-hidrocanabinol) os dois fitocanabinoides mais conhecidos e estudados, mas existem mais de 150 já descobertos. Os tipos de medicina encontradas no mercado brasileiro são o óleo de cannabis com moléculas isoladas aonde a composição é somente de um certo cannabinoide da planta ou CBD ou THC e o óleo de cannabis do  full spectrum ou integral que podem possuir diferentes concentrações de THC, CBD e demais componentes.

É bom ressaltar que ao utilizar esse tipo de extrato além dos fitocanabinoides também há a ação de terpenos e flavonoides, cada composto tem a sua característica, então além de potencializar os efeitos terapêuticos, também diminui os efeitos colaterais que podem surgir, como por exemplo, a ação psicoativa do THC. Esse efeito, que ocorre devido a sinergia das substâncias presentes na cannabis, é denominado de efeito comitiva ou efeito entourage.

O tratamento, que além de cães e gatos também apresenta resultados com animais silvestres como aves, répteis e demais mamíferos, atua no sistema endocanabinoide, existente em todas as espécies animais, inclusive nos humanos, e responsável pela manutenção do equilíbrio fisiológico geral. Dessa forma, uma rede de substâncias químicas conecta o cérebro e o corpo, regulando funções essenciais como controle da dor, temperatura, estresse e até apetite. todas as espécies respondem bem ao tratamento, o que vai variar é a dose e o intervalo de administração, que devem ser avaliados de forma individual.

Conhecimento é essencial e deve ser difundido

O medico veterinário para ter sucesso com a terapia canabinoide precisa ter conhecimento da planta e seus compostos, e comprometimento em  acompanhar o paciente de perto. Existe um protocolo para introdução do óleo de cannabis em animais chamado Low Dose. De acordo com este protocolo, é prudente começar a introduzir a cannabis nos animais a partir de uma dosagem bem baixa, para ir acostumando seu organismo aos poucos. Esse período de introdução deve durar entre cinco e dez dias, podendo se estender caso o veterinário perceba que há necessidade de um tempo maior.

É muito importante que tanto o veterinário quanto o dono do animal prestem atenção no comportamento do pet, mesmo nessa fase de introdução do óleo. Assim como acontece com seres humanos, a dosagem de cannabis pode ser aumentada ou diminuída a depender das reações do organismo do animal.

A cannabis é uma planta que possui baixa toxicidade. Reações adversas em animais são raras e geralmente estão associadas a casos de superdosagem ou ingestão da versão in natura. Nesse sentido, cabe ressaltar que não se deve jamais oferecer a planta para os pets, uma vez que a maconha tem também THC, substância psicoativa. Aliás, o uso da cannabis medicinal, seja nas pesquisas, seja na vida real, precisa contar com o acompanhamento de veterinários especializados.

*Dr. Fábio é fundador da empresa Dr. Petcannabis, idealizador da Associação Brasileira Petcannabis e da Associação Petcannabis BR que tem como objetivo orientar estudantes de medicina veterinária, médicos veterinários e tutores nos caminhos da terapia canabinoide. Conta com mais de 1.420 alunos formados em seus cursos e uma lista de mais de 500 pacientes já atendidos e tratados com a cannabis, além de ser paciente oncológico há seis anos e utiliza a cannabis medicinal, com HC para plantio e produção de sua medicina.