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Como a cannabis pode auxiliar no tratamento da endometriose?

by contato

A endometriose afeta cerca de 100 milhões de mulheres em todo o mundo e, no Brasil, mais de 6 milhões. É uma condição inflamatória crônica altamente desconfortável, dolorosa, difícil de tratar e diagnosticar. Nela, o endométrio – o tecido que reveste o interior do útero – sai do útero. Este tecido rebelde pode então crescer em órgãos como os ovários, trompas de falópio, colo do útero, apêndice, útero e bexiga, bem como algumas outras áreas abdominais.

A dor é o principal sintoma da endometriose, tanto a dor menstrual extrema quanto a dor pélvica crônica. Ela também pode causar problemas digestivos permanentes e até infertilidade. E devido à normalização generalizada da dor menstrual feminina, juntamente com lacunas no conhecimento médico sobre suas causas, muitas mulheres sofrem dessa condição sem esperança de alívio.

Os principais sintomas da endometriose são:

Sintomas pré-menstruais consistentes
Períodos pesados ​​e dolorosos
Letargia, fadiga e problemas para dormir
Dor durante o sexo
Dor na parte inferior das costas, quadris e coxas
Dor com movimentos intestinais
Dor pélvica
Subfertilidade
E, por causa dos sintomas da dor, as mulheres com endometriose podem ficar extremamente ansiosas e até deprimidas.
Ou seja, a endometriose pode ser um grande problema na vida de nós, mulheres.

Normalmente, ela pode ser tratada com medicamentos e/ou cirurgia – mas até agora não há cura disponível. A cirurgia consiste na remoção dos focos por laparoscopia. Já o tratamento médico consiste no controle da dor com analgésicos, anti-inflamatórios ou terapia hormonal. No entanto, a cannabis tem surgido como uma alternativa no tratamento, principalmente no controle da dor causada.

Como a cannabis pode ajudar no tratamento da endometriose

A endometriose caracteriza-se pelo crescimento anormal do tecido do endométrio, onde fibras nervosas sensoriais e simpáticas surgem nas ramificações desses crescimentos anormais. Essas fibras são ricas em receptores CB1 e, portanto, podem ser moduladas com endocanabinoides ou com os canabinoides da cannabis (que podem ativar o CB1), como o CBD e o THC. Vale destacar que o trato reprodutivo feminino tem o segundo maior número de receptores de canabinoides do corpo humano.

Os receptores CB1 também podem ser encontrados em abundância no útero e em inúmeros tecidos não reprodutivos. Já os receptores CB2 são abundantes no sistema imunológico, como vimos em nosso artigo sobre o Sistema Endocanabinoide.

O CBD é antagonista dos receptores CB1 e agonista inverso dos receptores CB2. Atua aumentando os níveis de anandamida no nosso corpo (a molécula da felicidade) e os níveis de serotonina (causando uma redução de ansiedade). Além de gerar a redução da dor. 

A cannabis pode tratar a endometriose nos seguintes aspectos:

Parar a proliferação da dor
Impedir a migração de células
Inibir a vascularização da lesão
Inibir a inervação da lesão
Modular a resposta imune
Síntese de bloqueio de prostaglandinas inflamatórias
Nervos dessensibilizadores que transmitem dor

Em 2010, por exemplo, um estudo descobriu que o sistema endocanabinoide pode estar envolvido na endometriose e seus sintomas. Pesquisadores também já identificaram em ratos que o sistema endocanabinoide pode interferir tanto na condição quanto na dor que a acompanha. 

Na Austrália, uma pesquisa identificou que 13% das mulheres relataram consumo de cannabis para controle de sintomas. Pouco mais de sete em cada dez dessas mulheres também relataram que a cannabis foi eficaz na redução da dor.

Em 2020, um estudo publicado na eLife mostrou que a utilização de canabinoides pode aliviar os sintomas da endometriose. A equipe de pesquisadores utilizou camundongos com implantes endometriais em sua pélvis simulando a endometriose em humanos e descobriu que camundongos com endometriose tratados com THC por 32 dias tiveram crescimentos endometriais menores.

Como vimos, os estudos indicam que a endometriose está ligada à uma deficiência do sistema endocanabinoide e a utilização de canabinoides pode ser uma estratégia de tratamento, uma vez que ele pode controlar a dor, regular o sistema hormonal e imunológico, o aumento da apoptose e a normalização de mecanismos invasivos e mecanismos de neoangiogénese.

A utilização da cannabis in natura rica em CBD de forma vaporizável tem se mostrado uma grande aliada no combate à dor causada pela endometriose, principalmente em momentos de crise, uma vez que a sua atuação no organismo é rápida por conta da rápida absorção causada pela vaporização. No entanto, deve estar sempre alinhado à utilização do óleo também. 

A administração do óleo é de fundamental importância no controle da inflamação causada pela endometriose e impede com ela se espalhe para outros tecidos devido à atuação anti-inflamatória do canabidiol. Ou seja, a combinação da forma vaporizável da cannabis rica em CBD com o óleo pode trazer grandes benefícios no tratamento. 

Aliada a utilização do CBD, a readequação da dieta também pode ajudar no controle da dor.  Podemos retirar, ou pelo menos reduzir, os alimentos inflamatórios, além de moderar o consumo de glúten, laticínios, açúcar ou álcool pode realmente ajudar.

Exercícios, atividade física e sono também podem desempenhar um grande fator na melhora dos sintomas da endometriose. Chás, como o de camomila, também auxiliam no momento da dor e, também, a bolsa térmica com água quente.

A utilização da cannabis no tratamento também atinge outros aspectos da vida da paciente, como a diminuição da ansiedade e a regulação do sono, fazendo com que se consiga uma melhor qualidade de vida.

Mas, lembre-se, procure sempre o seu médico e converse com ele sobre os tratamentos disponíveis com a cannabis.

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Dra. Amanda Medeiros Dias (Crm 39.234 PR) é médica formada em 2017, com pós-graduação em pediatria e nutrologia pediátrica e, atualmente, está cursando Psiquiatria Infantil pelo CBI Miami. Possui Certificação Internacional Green Flower de Medicina Endocanabinoide. Tem experiência na prática clínica com crianças e adultos, visão integrativa olhando o paciente como um todo, possui experiência prática mesclando medicina com aromaterapia e cromoterapia, com foco na visão holística. Além de prescritora, é paciente de cannabis medicinal desde 2018. Também é diretora técnica no Instituto Coração Valente e médica voluntária em projetos da UNA (Unidos pela Amazônia).

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