Imagine que entre os benefícios flexíveis que a empresa que você trabalha tenha a opção de consulta com um médico prescritor de cannabis. Após exames, chega o diagnóstico de Burnout junto com uma recomendação: depois de um expediente cansativo, você pode utilizar uma dose de flores, óleo, cápsulas ou comestíveis de cannabis para se recuperar do dia e chegar com mais disposição na manhã seguinte.
Cresce cada vez mais o uso do CBD para tratar o esgotamento profissional, mas, prova disso é que no primeiro dia de 2022 a Organização Mundial da Saúde (OMS) pode ter estabelecido um novo marco. Começou a vigorar no dia 1 de janeiro a nova classificação da OMS, que trata o Burnout como uma doença ocupacional.
Com essa decisão, as empresas se tornam responsáveis por um problema que antes era apenas do funcionário. E a cannabis pode ser uma grande aliada para ambas as partes. Por um lado ajudando os funcionários a lidar com o estresse do cotidiano, por outro o colaborador que dorme e se alimenta bem, chega com mais disposição no trabalho e traz melhores resultados, além de ficar menos tempo afastado das suas funções.
Prevenir o esgotamento profissional também pode evitar processos trabalhistas como aconteceu em outubro de 2021, quando a 2ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (RS) decidiu por uma reparação de R$28 mil por danos morais a um profissional de turismo que desenvolveu síndrome de Burnout.
O psiquiatra Eduardo Perin prescreve cannabis para seus pacientes e acredita no potencial dos canabinóides para tratar e até prevenir o Burnout. A cannabis pode ser uma aliada muito forte para casos de Burnout, sim. A cannabis é capaz de melhorar vários sintomas da síndrome como o cansaço excessivo, irritabilidade, explosividade, ansiedade, depressão, insônia… Principalmente, o canabidiol pode ser um aliado bastante importante e eventualmente o THC também para potencializar uma ação mais antidepressiva. Seria possível a prescrição de cannabis tanto para tratamento dos casos de Burnout quanto para aqueles casos que a gente percebe que estão na beira de entrar num quadro de esgotamento.
Para a advogada Fabiana Mascarenhas, coordenadora do núcleo Cannabiz do escritório FCM Law, a importação de medicamentos com cannabis para prevenir o Burnout já pode ser feita seguindo a legislação brasileira e as empresas podem facilitar o acesso dos funcionários a esses medicamentos. Legalmente, hoje, para que qualquer pessoa física possa importar produtos medicinais à base de cannabis, é necessário obter a autorização da Anvisa. Para tanto, é necessário um cadastro prévio do paciente, com a prescrição do médico especialista para aquele tratamento em específico. Ou seja, sim, é possível. E a empresa pode, por exemplo, conceder o auxílio jurídico necessário para obtenção de importação do produto de cannabis na Anvisa. Ou, disponibilizando consultas médicas com profissionais especializados para obtenção da receita obrigatória para consumo do paciente.
Entenda melhor
As causas principais desta síndrome são o estresse mal administrado, excesso de trabalho, pressão e também a imposição de objetivos difíceis de serem cumpridos. Estudo da Fiocruz identificou que durante a pandemia de covid-19, 47,3% dos trabalhadores essenciais sofreram e podem ainda estar sofrendo com sintomas de Burnout. E uma outra pesquisa, feita pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, publicada no periódico Journal of the American Medical Association, chegou a conclusão que o canabidiol ajudou a combater o esgotamento em profissionais de saúde da linha de frente contra a covid-19.
O estudo
Foram selecionados 120 trabalhadores, dentre eles médicos, enfermeiros e fisioterapeutas do Hospital das Clínicas da FMRP, que atuavam nas alas de atendimento a pacientes com covid-19 entre junho e novembro de 2020. Os resultados apontaram uma redução de 60% nos sintomas de ansiedade, 50% nos de depressão e 25% de Burnout entre os voluntários que fizeram o tratamento com o uso do CBD em comparação com aqueles que só fizeram o tratamento padrão. A mudança foi considerável depois de 14 e 28 dias de uso do canabinóide.
Trocaria seu remédio pra dormir por canabidiol?
A cannabis, por ter um perfil de baixo risco, se torna uma opção mais saudável para os que usam medicamentos controlados para o sono e a ansiedade, remédios esses que podem causar mortes, enquanto a cannabis nunca matou ninguém. A grande diferença entre o canabidiol e os calmantes é o menor risco que o derivado da maconha oferece à vida das pessoas.
Algumas pesquisas mostram que muitas pessoas utilizam cannabis durante o trabalho. Segundo esse estudo, esse número chega a 35% se contarmos apenas programadores. É importante sempre ressaltar que o acompanhamento de um médico prescritor é fundamental para potencializar os benefícios e reduzir os efeitos adversos, cada caso deve ser tratado e acompanhado individualmente. Atualmente já ocorrem importações de tinturas, óleos e até flores secas in natura de outros países. Também temos 10 medicamentos aprovados pela Anvisa para serem vendidos em farmácias, muitas vezes com preços que dificultam o acesso.
*Gregório Ventura
Jornalista e editor-chefe da Editora Vista Chinesa